quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

A caminho das cidades biofílicas







As cidades europeias estão a assimilar o desafio da década apostando em políticas “verdes” que harmonizem o direito ao crescimento com o desenvolvimento, numa simbiose que nem sempre coincidiu com a vontade política ou os interesses económicos conjunturais. A opinião e a força dos cidadãos conseguiu inverter a tendência suicida ainda que se mantenha ativa a resistência quanto ao ritmo com que se deve marcar a aplicação de políticas amigas do Ambiente. Os exemplos são muitos e em Portugal é claro o esforço assumido por muitos municípios. Guimarães na sua dimensão de cidade pretende dar visibilidade ao seu esforço, candidatando-se a capital verde europeia, ao mesmo tempo que metrópoles como Lisboa procuram cobrir de verde os cancros da mobilidade.
Quer um, quer outro caso caminham, espera-se, para tornarem as cidades biofílicas. O conceito foi utilizado pela primeira vez pela Universidade de Harvard para definir o que classifica “como o grau em que seres humanos estão conectados com a natureza e com outras formas de vida”.
Este envolvimento é aparentemente mais complexo e exigente do que se pode esperar. No seu livro “BiophilicCities: Integrating Nature into Urban  Design and Planning”, Timothy Beatley”, aplica o conceito às “cidades que apresentam um desenho urbano que permite aos habitantes desenvolverem atividades e um estilo de vida que os deixa aprender com a natureza e comprometer-se com o seu cuidado”.
Em causa estão sete características: a natureza abundante nas proximidades das cidades com grande número de habitantes e a capacidade de criarem programas públicos de infraestruturas de cidades verdes: As cidades de Nova York e de Seattle já se autodenominam biofílicas por terem áreas verdes a 10 minutos de caminhada de casa ou um jardim comunitário. A afinidade entre cidadãos, flora e fauna constitui uma segunda premissa. Os exemplos vêm de Wellington, Nova Zelândia onde sessenta grupos comunitários prestam serviço em reservas naturais. Em Oslo, na Noruega, mais de 80 por cento dos cidadãos visitaram os bosques que rodeiam a cidade. A terceira característica envolve as oportunidades que cada um tem para estar ao ar livre. Em Singapura, conetaram-se os caminhos que permitem o acesso aos espaços verdes de modo a facilitar o acesso. Uma visão que nos projeta para uma outra dimensão das cidades biofílicas:  os ambientes multissensoriais. A capital norueguesa investiu na iluminação dos seus oito rios, permitindo aos cidadãos utilizar caminhos com 14 áreas de silêncio.
No capítulo da Educação, há que aprender com a cidade de Limerick, na Irlanda, ainda que em Portugal, cidades como Braga tenham investido em quintas pedagógicas. Lá, os grupos ambientalistas sensibilizam a população para as questões ambientalistas com caminhadas guiadas, conferências e programas online. Em Portland, Oregon ou em Singapura já estão no terreno programas de investimento em infraestruturas de carater social que permitem investir num projeto biofílico por ano. Dedicam cerca de 5 por cento do seu orçamento para construir centros de vida silvestre, museus de história natural e financiar iniciativas escolares. Por último, estas cidades são proactivas na conservação da natureza, avaliam a sua pegada ecológica e os impactos negativos sobre o ambiente, traçam planos de ação para proteger a biodiversidade. Há dois exemplos em destaque: Nagoya, Japão onde 10 por cento dos terrenos à volta dos limites urbanos ficam virgens para que possam ser assumidos como reserva natural e o caso de Vitória-Gasteiz, no País Basco onde foi construído um cinturão verde para limitar o crescimento da cidade. Exemplos não faltam nesta versão de Beatley que podem e devem ser imitados. Estas características correspondem ao que foi idealizado por Edward Osborne Wilson, cujo livro foi publicado em 1984 sobre a tendência natural da relação dos seres humanos com as coisas vivas. Por cá já estivemos mais longe de podemos assumir a Biofilia como parte das expensas de cada um em particular e da sociedade em geral. Urge valorizar o seu significado para que em cada cidade se faça luz em nome das Natureza.

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