O tempo da Liberdade pede-nos que
sejamos cidadãos responsáveis, atentos, mas sobretudo que cada um de nós, em
consciência, faça parte desse exercício, partindo sempre da ideia que se ela
pode ser frondosa, auspiciosa e até generosa, ela extingue-se ou definha-se de
forma mais rápida que se conquista.
A perceção que cada um de nós tem
sobre esse pilar primordial da Democracia diferencia-se na medida do interesse
de cada cidadã, de cada cidadão, interpretando as diferentes liberdades
consoante a sua necessidade e habilidade. Pensar, exprimir, agir, circular são
verbos essenciais desse exercício. Nem sempre os tomamos pelas rédeas certas e,
por vezes, nem nos apercebemos que somos vítimas da ação substantiva dos seus
efeitos e fragilidades que facilmente derivam para um faz de conta acomodadiço, pondo em causa os fundamentos genuínos da sua criação.
A minha geração não nasceu em
liberdade, mas apanhou o comboio em andamento em tenra idade, influenciada e
bem pelos “irmãos mais velhos” que agarraram a oportunidade para a construir. Fizemo-lo
de forma brilhante e fomos capazes de outorgar as diferentes liberdades de
forma equilibrada. Ora, um dos pilares essenciais – a liberdade de informação –
é o que denota hoje maior fragilidade, quando o que se esperava, era
precisamente o contrário. Assistimos ao empobrecimento da comunicação social de
forma impávida sem perceber que quando fecha um jornal, uma rádio ou um canal
de televisão, ficamos mais pobres, fica o Estado, fica a cidade, fica a
cidadania. E o que se pode fazer, pergunta o leitor?- A resposta não é fácil, é
controversa, mas merece que cada um reflicta sobre o empobrecimento das
empresas, da sua incapacidade financeira, da fragilidade que atinge o exercício
jornalístico. O problema não é de hoje, é de sempre, mas atinge agora
proporções alarmantes para as quais se exige que os cidadãos se responsabilizem
de forma clara, responsável, participando no custo desta Liberdade. O
encerramento de jornais e rádios, o despedimento de jornalistas, a permanente
fragilidade económica, são um espelho de uma sociedade doente e zangada consigo
mesmo, que não entende que não pode haver verdadeira liberdade de informação se
os pilares da liberdade de expressão viverem permanentemente dependentes da
alternância política, do mercado, da canibalização informativa em canais
virtuais alternativos, da ausência de cumplicidade positiva do leitor, do
ouvinte, do espetador com os seus órgãos de comunicação social. Temo que
estejamos próximos de um ponto de não retorno, de incapacidade coletiva de
assumirmos os custos de uma imprensa livre. As cidades e o Estado, o país, cada
um de nós, é responsável, pelo que urge debater a liberdade económica – tema
tabu nas lides jornalísticas e que, muito bem, a presidente do Sindicato de
Jornalistas desfez trazendo o tema à liça, no início do ano, ao evocar a
necessidade de se criarem mecanismos de subvenção estatal que terminem com o
flagelo atual em que 20 por cento dos jornalistas perderam o seu emprego,
metade recebe o salário mínimo, atingindo amargamente a qualidade
jornalística. Cabe à Assembleia da República tomar as rédeas de uma iniciativa
que consagre de forma irreversível e independente da alternância governativa,
apoios transparentes. Não se trata apenas do cumprimento legal de distribuição
equitativa da publicidade institucional, que aliás não é cumprido, mas de criar
mecanismos em sede do Orçamento de Estado devidamente enquadrados, que
permitam, à semelhança do que acontece em França, ter uma comunicação social
forte onde não faltem, como ocorre hoje, os “olhos, as mãos, as cabeças”
necessárias como nos recorda a presidente do Sindicato, Ana Luísa Rodrigues,
para pensar o nosso quotidiano. Os leitores parecem sossegados enquanto lêem
esta crónica, mas parecem desconhecer ou quererem ignorar que quando clamam
pela qualidade jornalística, exigindo cada vez mais, há um preço a pagar. Não
há liberdade grátis e essa lição tem de ser aprendida o mais depressa possível.
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