domingo, 27 de dezembro de 2015

A Famlia Hi-Teck




E se de repente alguém que não conhece, passasse por si na rua e lhe dissesse: “Bom dia, Bom Natal. Boas Festas!”. A sua surpresa, tal como a minha, é de reciprocidade, calculo! O gesto individual releva uma dimensão humana e coletiva que transforma a indiferença em algo familiar, próximo do que é mais importante na vida coletiva. Não é por acaso que a primeira instituição humana, ainda que em progresso, sejam os laços de sangue que estabelecem entre os indivíduos, a necessária corrente sanguínea perpétua. Tal como cada um dos leitores, (é o meu desejo), teve a oportunidade de se lambujar entre os seus, eu também tive a minha oportunidade de confraternizar com os mais próximos, os que nos acalentam a esperança de que cada dia é uma oportunidade para crescermos e nos unirmos em torno de valores e princípios.  Ao ouvir um dos meus sobrinhos, Luís, sobre a notoriedade de Paulo Cunha e Silva e o seu exemplo humanista de serviço comum, regozijei-me por ver exemplos da sensibilidade numa nova geração de fazedores que não se descuida de ser um ser tecnológico e simultaneamente humano. Para muitos dos leitores, o ser tecnológico é mais uma imagem de que uma ferramenta e está ainda longe de ser uma verdade incómoda que parece afetar mais os outros do que ele próprio. No entanto, o isolamento, o egoísmo e a insensibilidade aparecem na sintomatologia das doenças urbanas e em cada de nós, mutilando a família como se esta fosse um tronco da árvore incomum e a máquina e as suas interações a mais importante de todas as verdades. A família, quando é construída com alicerces fortes, transforma-se numa arma inamovível, capaz de responder aos exageros que a podem afetar enquanto primeira instituição pensante devidamente organizada. A realidade vai-nos ensinando e molda-nos perante novos e crescentes desafios – uma espécie de luta de Titãs onde vence, não o que te demonstra ter mais força, mas o que se vale da inteligência para combater a iniquidade humana. É neste contexto, que muitos cientistas têm estudado as doenças tecnológicas. O leitor pode não ter uma perceção da sua dimensão, mas basta ler o texto de Mário Malhão, publicado recentemente no Económico, para se perceber que não é só a família enquanto padrão conceito que está em causa. Somos nos individualmente a afetar os outros que nos são próximos. A Nomofobia, ansiedade causada quando não se tem acesso ao telemóvel, a Bulimia informativa, enquanto necessidade imperiosa de toda a informação disponível, a dependência das redes sociais, enquanto comportamento compulsivo de alguém que passa muito tempo no facebook, ou o transtorno da dependência da Internet, enquanto vontade constante, são apenas exemplos do diagnóstico que nos é feito. Há que acrescentar mais cinco doenças: o síndrome do toque fantasma que se reflete pelo cérebro fazer com que se pense que o telemóvel está a tocar; a náusea digital ou vertigem que alguns sentem quando interagem com demasiados objetos digitais; a depressão causada pela falta de interações sociais; o efeito Google provocado pela tendência do cérebro de reter menos informação porque sabe que as respostas estão ao alcance de um click ou a cibercondria ou hipocondria digital, tendência em acreditar que se tem doenças sobre as quais se leu na Internet. Esta tipologia de doenças parece passar ao largo da discussão familiar, mas não deve. O diretor do serviço de Psiquiatria do hospital Gaia/Espinho recorda que “os casos depressivos que derivam da desilusão e da deceção causadas pelas expectativas defraudadas do mundo virtual, por oposição ao mundo real, estão a aumentar progressivamente”. Num recente debate sobre “A Psiquiatria e a Saúde Mental- Entre as Redes Neuronais e as Redes socais”, aquele especialista é claro na sua explicação sobre o mundo das doenças virtuais: “a esfera digital e virtual tornou-se um catalisador de novas formas de voyeurismo e exibicionismo acentuando efeitos de imitação e de comportamentos autodestrutivos…”. Que cada um e cada família saibam interpretar a cada momento a importância de existirem.

Sem comentários:

Enviar um comentário