E se de repente alguém que não conhece, passasse por si na
rua e lhe dissesse: “Bom dia, Bom Natal. Boas Festas!”. A sua surpresa, tal
como a minha, é de reciprocidade, calculo! O gesto individual releva uma dimensão
humana e coletiva que transforma a indiferença em algo familiar, próximo do que
é mais importante na vida coletiva. Não é por acaso que a primeira instituição
humana, ainda que em progresso, sejam os laços de sangue que estabelecem entre
os indivíduos, a necessária corrente sanguínea perpétua. Tal como cada um dos
leitores, (é o meu desejo), teve a oportunidade de se lambujar entre os seus,
eu também tive a minha oportunidade de confraternizar com os mais próximos, os
que nos acalentam a esperança de que cada dia é uma oportunidade para
crescermos e nos unirmos em torno de valores e princípios. Ao ouvir um dos meus
sobrinhos, Luís, sobre a notoriedade de Paulo Cunha e Silva e o seu exemplo
humanista de serviço comum, regozijei-me por ver exemplos da sensibilidade numa
nova geração de fazedores que não se descuida de ser um ser tecnológico e
simultaneamente humano. Para muitos dos leitores, o ser tecnológico é mais uma
imagem de que uma ferramenta e está ainda longe de ser uma verdade incómoda que
parece afetar mais os outros do que ele próprio. No entanto, o isolamento, o
egoísmo e a insensibilidade aparecem na sintomatologia das doenças urbanas e em
cada de nós, mutilando a família como se esta fosse um tronco da árvore incomum
e a máquina e as suas interações a mais importante de todas as verdades. A
família, quando é construída com alicerces fortes, transforma-se numa arma
inamovível, capaz de responder aos exageros que a podem afetar enquanto
primeira instituição pensante devidamente organizada. A realidade vai-nos
ensinando e molda-nos perante novos e crescentes desafios – uma espécie de luta
de Titãs onde vence, não o que te demonstra ter mais força, mas o que se vale
da inteligência para combater a iniquidade humana. É neste contexto, que muitos
cientistas têm estudado as doenças tecnológicas. O leitor pode não ter uma
perceção da sua dimensão, mas basta ler o texto de Mário Malhão, publicado
recentemente no Económico, para se perceber que não é só a família enquanto
padrão conceito que está em causa. Somos nos individualmente a afetar os outros
que nos são próximos. A Nomofobia, ansiedade causada quando não se tem acesso
ao telemóvel, a Bulimia informativa, enquanto necessidade imperiosa de toda a
informação disponível, a dependência das redes sociais, enquanto comportamento
compulsivo de alguém que passa muito tempo no facebook, ou o transtorno da
dependência da Internet, enquanto vontade constante, são apenas exemplos do
diagnóstico que nos é feito. Há que acrescentar mais cinco doenças: o síndrome
do toque fantasma que se reflete pelo cérebro fazer com que se pense que o
telemóvel está a tocar; a náusea digital ou vertigem que alguns sentem quando
interagem com demasiados objetos digitais; a depressão causada pela falta de
interações sociais; o efeito Google provocado pela tendência do cérebro de
reter menos informação porque sabe que as respostas estão ao alcance de um
click ou a cibercondria ou hipocondria digital, tendência em acreditar que se
tem doenças sobre as quais se leu na Internet. Esta tipologia de doenças parece
passar ao largo da discussão familiar, mas não deve. O diretor do serviço de
Psiquiatria do hospital Gaia/Espinho recorda que “os casos depressivos que
derivam da desilusão e da deceção causadas pelas expectativas defraudadas do mundo
virtual, por oposição ao mundo real, estão a aumentar progressivamente”. Num
recente debate sobre “A Psiquiatria e a Saúde Mental- Entre as Redes Neuronais
e as Redes socais”, aquele especialista é claro na sua explicação sobre o mundo
das doenças virtuais: “a esfera digital e virtual tornou-se um catalisador de
novas formas de voyeurismo e exibicionismo acentuando efeitos de imitação e de
comportamentos autodestrutivos…”. Que cada um e cada família saibam interpretar
a cada momento a importância de existirem.
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