Erkratter Strasse. É aqui que
tudo parece acontecer quando se fala em português, na cidade alemã de
Dusseldorf. Espelho da tenacidade e da visão de três portugueses, o mundo
parece tornar-se mais pequeno para os 1600 lusos que escolheram aquela cidade.
Mas o que podia parecer um espaço natural de confraternização de portugueses, é
muito mais do que isso: Há ali “um contrato” multicultural, multirracial”- um
local de encontro de Pessoas. Situado num dos bairros exemplo da integração
alemã, dois restaurantes – “O Frango
Português” e o “Clube Português” – são o exemplo da integração, mas também da
tolerância e da visão moderna alemã sobre o valor dos outros povos. A partir
destes dois locais, a que se junta a Cave Portuguesa I e II, uma visita
relâmpago aos seus arredores revela a polarização linguística e cultural com
residentes oriundos de mais de 30 países num único bairro habitado por 600
pessoas. É aqui, também bem perto, que 40 mil refugiados abraçaram a primeira
oportunidade que lhes foi dada por aquele país ainda que o receio, ninguém o
esconde, está presente na cabeça dos alemães, mas sem que isso constitua um
problema, antes uma “reação natural que tende a desaparecer”. Como
confidenciava um casal alemão que se
juntou no passado dia 6, à primeira edição do Festival de Sopa portuguesa
cozinhada em pote de ferro, “é preciso dar tempo para que tudo corra bem”. Nos
restaurantes portugueses respira-se, fala-se alemão, português, búlgaro, romeno,
entre muitas outras línguas que não constituem barreira à empregabilidade. Tudo ocorre de forma tão
natural quanto a sede e a fome de consumir os típicos pratos da cozinha minhota
que por ali se cozinham. Parece que a mesa é um bom paliativo para aligeirar as
diferenças, mas é na atitude que os portugueses se destacam, mostrando-se de espírito aberto à diferença.
José Esteves, Armando Cortes e Felipe Castelo são os rostos de um projeto que
chega ao centro histórico daquela cidade alemã onde todas as semanas se
houve fado. E recebem a resposta ao desafio com as casas
cheias de consumidores locais. O seu exemplo mereceu o testemunho do cônsul
português naquela cidade, bem como de fotojornalistas que exasperaram pela
melhor foto do caldo. Um vai e vem que juntou numa praça centenas de alemães
curiosos e ávidos de informação sobre a sopa portuguesa numa vertiginosa
corrida ao melhor dos 1200 litros de caldo servidos em pouco mais de seis
horas. Estamos enquadrados por um antigo complexo industrial de uma antiga
marca de produtos de limpeza, reconvertida e transformada em espaço onde
convivem o conhecimento (escola primária e Instituto Superior de Gestão), a
prática desportiva (ginásio 24 horas), o divertimento (discoteca), escritórios
e habitação. Do outro lado da rua, o Sicasso dá as boas vindas aos portugueses
no final de mais um dia de trabalho. São recebidos pelo Said, um jovem
marroquino, empregado de uma família turca, cujo patrono nos recebe no final da
noite para um curto convívio. Tranquilidade e boa disposição marcam a diferença
na relação e no convívio com os jovens portugueses. A integração está a ser
levada tão a sério em Dusseldorf, que apesar de ter sido alvo de ocupação
ilegal há dezenas de anos, o bairro “Kiefernstrasse” é agora um exemplo. Com o
apoio da Câmara local, alguns dos seus habitantes estão a transformar as
fachadas em obras de arte, conferindo um colorido excecional do qual cuidam e
exigem que seja bem tratado. O que era dantes um local marginal, está a
tornar-se num bom exemplo de que como pode ser possível reverter situações
dadas como perdidas. A lição de quem ali habita está toda na autoestima que
faltava ao bairro- um exemplo a merecer
a atenção de gestores urbanos em Portugal que ainda não cuidaram de alterar as
suas metodologias e políticas na hora de tentarem reabilitar social e
patrimonialmente os espaços degradados. A importância dada ao exemplo de
reabilitação é tão grande que, como nos conta Armando Cortes, “há excursões”
para visitarem o bairro. Nada, digo eu, que não pudesse acontecer em Portugal.
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