quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

A Mobilidade mental








Em Portugal não há o hábito de avaliar os custos da mudança, nem que esta seja política – necessariamente legitimada-, o que se traduz num problema que afeta instituições, empresas, cidadãos. A mudança governamental é a todos os títulos e por tradição aquela que causa mais mossa e a que invariavelmente, acarreta um custo quando todos os players são confrontados com as mudanças de estratégia, de objetivos, de protagonistas.
A Democracia é assim mesmo, não é perfeita e tem custos que a sociedade, apesar de os assimilar como incontornáveis, desconhece, mas que vale apena avaliar, não por que não se deva aceitar a consequência, mas para impedir efeitos sobre a economia e a sociedade que podem ser evitáveis, poupando, assim, milhões de euros ao Estado. É bom lembrar que nesta algazarra (entra e sai) os governos passam, o Estado fica. E este Estado não é apenas a Administração central e os seus órgãos descentralizados,  mas também os municípios e os seus órgãos locais. Quase sempre estes últimos apanham por tabela, mesmo que estejam a fazer o seu trabalho, bom ou mau, e este é o lado pernicioso sobre o qual convido o leitor a refletir. A crescente dependência do poder local dos órgãos centrais foi aumentando, por oposição à limitação da autonomia, granjeando entropias atrás de entropias como se essa tivesse de ser uma sina perpetuada na vida coletiva dos portugueses e das portuguesas. O que faz com que Portugal esteja longe das melhores práticas europeias, é exatamente esta incapacidade de separar o plano político do plano executivo ordinário e das opções que cada um, legitimado pela urna, procura fazer. A fase que vivemos é de uma extraordinária oportunidade para a Cidadania, para o fortalecimento das instituições enquanto detentoras dos instrumentos de dinâmica económica e social que urge preservar como forma de desenvolver as potencialidades endógenas dos territórios, nas suas múltiplas dimensões. A dinâmica em curso está a ser conduzida por uma “mobilidade mental” a que aderiram uma boa parte dos autarcas deste país e que tem de ser preservada e não beliscada ou mesmo coartada pela Administração central como é timbre sempre que ocorre uma mudança de poder na Assembleia da República. Há um apelo que tem de ser feito, agora que muitos dos instrumentos de planeamento estratégico regionais estão aprovados e/ou em curso, que os planos locais avançam, ainda que a ritmos diferentes, com o Horizonte 2025 na mira: sejam pragmáticos, façam escolhas que melhorem, não que impeçam ou limitem a ação local. Estão a ser feitas coisas extraordinárias em muitos municípios portugueses, sejam elas ao nível da transparência da gestão da coisa pública, do planeamento estratégico de médio e longo prazo, da dinâmica económica e da recentralidade das políticas em função dos padrões de qualidade de vida. As sinergias, que juntam à mesma mesa estilos, discursos e visões diferentes, mas disponíveis para alimentar o território em função de uma estratégia comum que beneficia pessoas e a economia, são um bom exemplo que não pode ser maculado por uma lógica meramente partidária. Infelizmente tem sido assim sempre que ocorrem mudanças significativas, mas este é exatamente o momento em que é preciso distinguir o trigo do joio, não coartando as dinâmicas locais, fortalecendo a autonomia de quem sempre soube gerir melhor os dinheiros públicos em função das necessidades das pessoas e de quem constitui hoje a frente mais sólida para manter a coesão social tão necessária quanto desejável. Temo que nos fiquemos pelas palavras e por promessas de cooperação, de respeito institucional e que na surdina, pela calada, se volte a ouvir a música desafinada do poder político e da sua lógica perversa quando está em causa o exercício sobre as opções que cada território e os seus protagonistas assumem como instrumento fundamental para o futuro coletivo que nos obriga a todos.

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