Publicado na edição e Domingo, 11 de Outubro, no Jornal Diário do Minho
A dispersão é tão grande e imparável que se um
dia (amanhã) a sociedade humana evoluir para a consolidação da gestão política
da coisa pública nas redes sociais sem se armar de nenhum escudo, seremos capazes
de digerir o volume de bytes gerado pelos inúmeros protagonistas, nem pelos
discursos mecanicamente expressivos. Não será o caos social –mas o reflexo de
uma nova ordem política mais musculada e menos democrática que se apresentará
perante os cidadãos por questões de segurança. Para o comum de nós, este
cenário está longe, é até inverosímil e revelador de um tom pessimista que
reina entre muitos pensadores. Por agora, as nossas preocupações ainda passam
por perceber como estabelecer pontes entre democracia e Tecnologia, sem ficar
coartados sob o peso e a consequência das ameaças, mas apenas das
oportunidades. Francesca Bria, uma especialista em movimentos sociais avalia
esta questão numa perspetiva intrusiva. A líder do D-CENT, um projeto europeu
da Agência para a Inovação do Reino Unido, não acompanha apenas o fenómeno;
colabora na criação de “novas ferramentas e infraestruturas democráticas”, como
lhe chamou na entrevista concedida ao jornalista Pedro esteves, do Observador.
O primeiro problema com que se tem deparado é de como garantir que a Internet
se mantém livre e não é controlada na sua circulação por empresas e
corporações. A sua ideia é que pertence aos cidadãos o controlo da tecnologia e
que a inteligência coletiva pode ser um meio para impedir que se mantenha a
vontade dos que advogam um maior controlo e a manutenção do privilégio dos que
não querem mudar. Políticos, gestores, empresários, sociólogos e analistas
convergem na necessidade de refletir sobre os caminhos da Democracia e a relação
desta com a Tecnologia, a partir da rede da Internet, mas entre a vontade de
olhar seria e criticamente para o problema e a tentação de consolidar o acesso
livre e transparente, há ainda uma grande distância. A frase da Tecnológica
Hitachi Data Systems, "Cities are safer when data creates visibility"
(as cidades serão seguras quando as bases de dados forem mais visíveis”),
demonstra que há ainda um grande divórcio entre querer ser e parecer
transparente. E isso está a acontecer com a velha democracia e com as novas
formas de interação social que não aceitam facilmente qualquer explicação, nem
se sentem satisfeitas com os argumentos mais ou menos sérios de governos e
empresas. O cidadão comum interroga-se com tantas certezas e dúvidas suscitadas
por uma revolução em curso, imparável e demolidora e terá boas razões para
avaliar criticamente o comportamento dos governantes. À primeira vista, parece
que o acesso é mais ou menos livre e que tudo ou quase tudo o que precisámos
está lá e que a circulação nas auto-estradas da Informação é imparável e por
isso ninguém conseguirá impor desvios ou portagens. Contudo, isso não é
inteiramente verdade, tanto mais que as dificuldades em aceder de forma
transparente a informação consolidada e reflexo da atividade política, económica
ou outra, é ainda escassa, para não falar da necessidade de alargar socialmente
o campo de decisão. A italiana, Francesca Bria lembra-nos,a propósito, o
surgimento de novos movimentos de cariz político imparáveis, da Islândia à
Itália, de Espanha a França e Alemanha tendo como causa próxima falta de
transparência, a ausência de credibilização, a consolidação do imperativo
financeiro sobre a economia e os fatores sociais.
A líder do D.CENT advoga nesta sua avaliação ao
poder social das redes, uma visão positiva em que possa emergir a inteligência
coletiva como fator de alterar os mecanismos de decisão e de tornar mais fácil
a participação cívica cos cidadãos. Assim se fará a Europa, penso eu.
Sem comentários:
Enviar um comentário