segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A Democracia Tecnológica


Publicado na edição e Domingo, 11 de Outubro, no Jornal Diário do Minho




A dispersão é tão grande e imparável que se um dia (amanhã) a sociedade humana evoluir para a consolidação da gestão política da coisa pública nas redes sociais sem se armar de nenhum escudo, seremos capazes de digerir o volume de bytes gerado pelos inúmeros protagonistas, nem pelos discursos mecanicamente expressivos. Não será o caos social –mas o reflexo de uma nova ordem política mais musculada e menos democrática que se apresentará perante os cidadãos por questões de segurança. Para o comum de nós, este cenário está longe, é até inverosímil e revelador de um tom pessimista que reina entre muitos pensadores. Por agora, as nossas preocupações ainda passam por perceber como estabelecer pontes entre democracia e Tecnologia, sem ficar coartados sob o peso e a consequência das ameaças, mas apenas das oportunidades. Francesca Bria, uma especialista em movimentos sociais avalia esta questão numa perspetiva intrusiva. A líder do D-CENT, um projeto europeu da Agência para a Inovação do Reino Unido, não acompanha apenas o fenómeno; colabora na criação de “novas ferramentas e infraestruturas democráticas”, como lhe chamou na entrevista concedida ao jornalista Pedro esteves, do Observador. O primeiro problema com que se tem deparado é de como garantir que a Internet se mantém livre e não é controlada na sua circulação por empresas e corporações. A sua ideia é que pertence aos cidadãos o controlo da tecnologia e que a inteligência coletiva pode ser um meio para impedir que se mantenha a vontade dos que advogam um maior controlo e a manutenção do privilégio dos que não querem mudar. Políticos, gestores, empresários, sociólogos e analistas convergem na necessidade de refletir sobre os caminhos da Democracia e a relação desta com a Tecnologia, a partir da rede da Internet, mas entre a vontade de olhar seria e criticamente para o problema e a tentação de consolidar o acesso livre e transparente, há ainda uma grande distância. A frase da Tecnológica Hitachi Data Systems, "Cities are safer when data creates visibility" (as cidades serão seguras quando as bases de dados forem mais visíveis”), demonstra que há ainda um grande divórcio entre querer ser e parecer transparente. E isso está a acontecer com a velha democracia e com as novas formas de interação social que não aceitam facilmente qualquer explicação, nem se sentem satisfeitas com os argumentos mais ou menos sérios de governos e empresas. O cidadão comum interroga-se com tantas certezas e dúvidas suscitadas por uma revolução em curso, imparável e demolidora e terá boas razões para avaliar criticamente o comportamento dos governantes. À primeira vista, parece que o acesso é mais ou menos livre e que tudo ou quase tudo o que precisámos está lá e que a circulação nas auto-estradas da Informação é imparável e por isso ninguém conseguirá impor desvios ou portagens. Contudo, isso não é inteiramente verdade, tanto mais que as dificuldades em aceder de forma transparente a informação consolidada e reflexo da atividade política, económica ou outra, é ainda escassa, para não falar da necessidade de alargar socialmente o campo de decisão. A italiana, Francesca Bria lembra-nos,a propósito, o surgimento de novos movimentos de cariz político imparáveis, da Islândia à Itália, de Espanha a França e Alemanha tendo como causa próxima falta de transparência, a ausência de credibilização, a consolidação do imperativo financeiro sobre a economia e os fatores sociais.
A líder do D.CENT advoga nesta sua avaliação ao poder social das redes, uma visão positiva em que possa emergir a inteligência coletiva como fator de alterar os mecanismos de decisão e de tornar mais fácil a participação cívica cos cidadãos. Assim se fará a Europa, penso eu.

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