segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A Psicologia está na rua







Os leitores que tiveram a oportunidade de lerem um texto, neste espaço, sobre os cheiros e a sua importância para a identidade das cidades – podem lê-lo no blog-  nunca pensaram como o problema pode ser mais vasto a ponto de merecer uma análise psico-geográfica do dia a dia. É inacreditável e fascinante observar os diferentes ângulos de cientistas, investigadores e especialistas em terrenos de saber tão diversos. Esta semana chegou-me às mãos uma das últimos obras de Collin Ellard- um neurocientista da Universidade de Waterloo, em Ontário, Canadá. “Places of the heart” (espaços do coração numa tradução literal). Uma obra descrita pelo autor de “Happy City-Transforming our lives through urban design”, Charles Montegomery como imprescindível para compreendermos como os lugares que habitamos mudam o nosso corpo e mente.
Conhecido por ser um dos principais pensadores ao nível da neurociência aplicada ao design urbano, Ellard convoca-nos para uma experiência emocional. Pega em sensações como Luxuria, medo e admiração para explorar a psicologia por trás do nosso comportamento em diferentes contextos, desde as formas de marketing que ajudam a canalizar as nossas respostas emocionais e o uso de tecnologias que prometem melhorar a forma como entendemos a psicogeografia humana que pode ajudar a mudar o futuro da arquitetura e o design urbano.
O que está em causa, no seu estudo, é a possibilidade de se desenharem melhor as cidades em função da felicidade das pessoas, pese embora, tudo isso, possa ser subjugado às tecnologias com o o GPS, a realidade virtual e o meio ambiente interativo e inteligente.
O certo é que o seu trabalho é facilmente compreendido quando, cada um de nós, anda na rua e interage com o que vê, com o que sente, com o que ouve e com o que lhe comunicam ou comunica. Para perceber melhor do que falo siga, este raciocínio: os estudos indicam que se um de nós estiver a passear numa zona verde isso é bom e tem um efeito no bem estar, mas será que se tivermos perante três ou quatro árvores numa rua, isso chega para criar a mesma sensação, ou, pelo contrário, teremos de estar mergulhados em verde? É longe daqui, mas as ruas de Toronto, Canadá, serviram para isso mesmo: para testar estas sensações num ambiente de Laboratório. A experiência foi repetida nas ruas de Munbai, Índia e em Nova Iorque com pequeno grupos de pessoas que foram testando as suas sensações utilizando os smarthpones para registar e transmitir as suas emoções, quer estivessem a admirar uma paisagem, a passear num beco tranquilo, ou numa rua pejada de gente. A forma como o nosso corpo e a nossa mente reagem pode ser rastreada a partir de um processo evolutivo das nossas cidades. Um das características que torna os espaços urbanos um sucesso tem a ver com a informação e o ambiente que envolve a zona onde se pretende habitar ou usufruir. Mas se pensa que chega, está enganado. Para os animais, a segurança e a existência de comida são fundamentais. Para os humanos, é preciso perceber que eles querem muito mais. Muito Mais. Já perceberam que as cidades são uma rede complicada de interações humanas, onde, apesar da difícil coabitação, vivem indivíduos, grupos em interação com o design físico dos espaços das cidades. Estas experiências não são necessariamente originais. Já em 2008, uma investigação do cientista Marc Berman, da Universidade de Michigan testou a diferença com alunos – utilizando a memória standard – das emoções registadas por eles conforme passeassem nas ruas da cidade ou na área verde do campus. O leitor já percebeu que a primeira diferença tem a ver com ambiente que rodeia cada individuo e isso é suficiente para fazer a diferença. Nem sempre as conclusões tiradas destes estudos são repetíveis, mas há algo que lhe pode escapar após acabar de ler este texto. É por isso que lhe lanço o mesmo desafio que Mark Collins do Van Alen Institute lançou em Broklin, Nova Iorque, em 2014: “Como é que o cérebro responde à cidade”?


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