Os
leitores que tiveram a oportunidade de lerem um texto, neste espaço, sobre os
cheiros e a sua importância para a identidade das cidades – podem lê-lo no
blog- nunca pensaram como o problema
pode ser mais vasto a ponto de merecer uma análise psico-geográfica do dia a
dia. É inacreditável e fascinante observar os diferentes ângulos de cientistas,
investigadores e especialistas em terrenos de saber tão diversos. Esta semana
chegou-me às mãos uma das últimos obras de Collin Ellard- um neurocientista da
Universidade de Waterloo, em Ontário, Canadá. “Places of the heart” (espaços do
coração numa tradução literal). Uma obra descrita pelo autor de “Happy
City-Transforming our lives through urban design”, Charles Montegomery como imprescindível
para compreendermos como os lugares que habitamos mudam o nosso corpo e mente.
Conhecido
por ser um dos principais pensadores ao nível da neurociência aplicada ao
design urbano, Ellard convoca-nos para uma experiência emocional. Pega em
sensações como Luxuria, medo e admiração para explorar a psicologia por trás do
nosso comportamento em diferentes
contextos, desde as formas de marketing que ajudam a canalizar as nossas
respostas emocionais e o uso de tecnologias que prometem melhorar a forma como
entendemos a psicogeografia humana que pode ajudar a mudar o futuro da
arquitetura e o design urbano.
O que está
em causa, no seu estudo, é a possibilidade de se desenharem melhor as cidades
em função da felicidade das pessoas, pese embora, tudo isso, possa ser
subjugado às tecnologias com o o GPS, a realidade virtual e o meio ambiente
interativo e inteligente.
O certo é
que o seu trabalho é facilmente compreendido quando, cada um de nós, anda na
rua e interage com o que vê, com o que sente, com o que ouve e com o que lhe
comunicam ou comunica. Para perceber melhor do que falo siga, este raciocínio:
os estudos indicam que se um de nós estiver a passear numa zona verde isso é
bom e tem um efeito no bem estar, mas será que se tivermos perante três ou
quatro árvores numa rua, isso chega para criar a mesma sensação, ou, pelo
contrário, teremos de estar mergulhados em verde? É longe daqui, mas as ruas de
Toronto, Canadá, serviram para isso mesmo: para testar estas sensações num
ambiente de Laboratório. A experiência foi repetida nas ruas de Munbai, Índia e
em Nova Iorque com pequeno grupos de pessoas que foram testando as suas
sensações utilizando os smarthpones para registar e transmitir as suas emoções,
quer estivessem a admirar uma paisagem, a passear num beco tranquilo, ou numa
rua pejada de gente. A forma como o nosso corpo e a nossa mente reagem pode ser
rastreada a partir de um processo evolutivo das nossas cidades. Um das
características que torna os espaços urbanos um sucesso tem a ver com a
informação e o ambiente que envolve a zona onde se pretende habitar ou
usufruir. Mas se pensa que chega, está enganado. Para os animais, a segurança e
a existência de comida são fundamentais. Para os humanos, é preciso perceber
que eles querem muito mais. Muito Mais. Já perceberam que as cidades são uma
rede complicada de interações humanas, onde, apesar da difícil coabitação,
vivem indivíduos, grupos em interação com o design físico dos espaços das
cidades. Estas experiências não são necessariamente originais. Já em 2008, uma
investigação do cientista Marc Berman, da Universidade de Michigan testou a
diferença com alunos – utilizando a memória standard – das emoções registadas
por eles conforme passeassem nas ruas da cidade ou na área verde do campus. O
leitor já percebeu que a primeira diferença tem a ver com ambiente que rodeia
cada individuo e isso é suficiente para fazer a diferença. Nem sempre as
conclusões tiradas destes estudos são repetíveis, mas há algo que lhe pode
escapar após acabar de ler este texto. É por isso que lhe lanço o mesmo desafio
que Mark Collins do Van Alen Institute lançou em Broklin, Nova Iorque, em 2014:
“Como é que o cérebro responde à cidade”?
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