segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Anúncio: aceitam-se autarcas não remunerados



Há dois anos atrás, em Ponte de Lima, na apresentação de um livro do eurodeputado, José Manuel Fernandes, ouvi Manuel Castro Almeida falar sobre a mudança de paradigma na gestão local. O governante falava de um salto qualitativo, suportada pela estratégia 2020, em que era e é exigido ao autarca que deixasse o lado obreirista, passando a desempenhar o papel de agente de desenvolvimento local. Domingo passado, Castro Almeida voltou a insistir na mesma ideia, numa entrevista ao Público. E se eu não conhecesse o país como conheço, estaria aqui a dizer que sim, que tem razão. Mas a minha felicitação pela mudança de discurso não esconde que o país tal como a Europa anda a várias velocidades. E sendo certo que há uma nova realidade no poder político, com um novo poder de decisão intermédio a nascer (as área metropolitanas e as comunidades intermunicipais), infelizmente, há ainda muita obra para realizar e quer este ou qualquer outro governo que se siga, terá ainda muita estrada para construir e mais de três mil milhões de euros, nas contas das Águas de Portugal, para investir em infraestruturas básicas.  Sem estas não podemos dar o salto para o equilíbrio sustentável do país; do mesmo modo que não podemos querer um horizonte  com estradas tecnológicas facilitadoras do acesso à Informação e aos serviços em cada município, quando temos problemas estruturantes na educação e na Saúde, no parque habitacional degradado de Norte a Sul do país. Do mesmo modo não podemos falar em colocar nas mãos dos autarcas a responsabilidade pelo crescimento e desenvolvimento das suas comunidades, quando as realidades são distintas, os instrumentos financeiros disponíveis são distintos e os instrumentos de suporte são claramente díspares.
Por isso, infelizmente, Castro Almeida não falou para todos os autarcas, não deixando contudo, de ter razão num aspeto que tem sido caro à sociedade: a exigência de planeamento, de visão estratégica a médio e longo prazo, de indicadores mensuráveis definidos à entrada dos mandatos e avaliados no seu final e a rotura com orçamentos irrealistas e perpétuos. Espera-se que os planos estratégicos de desenvolvimento urbano sustentável possam dar resposta a estes quesitos.
Há um outro paradigma, talvez o mais consistente na Mudança da gestão: a alteração da mentalidade dos governantes locais; uns mais depressa que outros, seja pela necessidade imperiosa de gerir os recursos em função de condicionantes financeiras mais profundas, seja por convicção de que há uma janela de oportunidade para se evoluir no modelo em vigor. Para que isso aconteça, porque ajuda, há dois aspetos essenciais: o primeiro passa pelo investimento na formação dos presidentes de Câmara e vereadores e aqui espera-se uma grande ajuda do Centro de Estudos e Formação autárquica, adquirido pela Associação de Municípios e um segundo que tem a ver com a governação eletrónica- papel esse reservado para a futura universidade das Nações Unidas, em Guimarães.
A afirmação de Castro Almeida contém um desafio, ainda não explorado no nosso país, mas a merecer uma atenção especial dos autarcas e dos futuros deputados: a criação de um processo de gestão não remunerada. Como?! – perguntam os leitores, cidadãos, eleitores. Bom! A tarefa não é fácil, mas se olharmos para a realidade do nosso país, conseguimos perceber que é possível introduzir um conjunto de critérios a partir dos quais já não se justifica um presidente de Câmara a tempo inteiro (aceita-se  meio tempo), porque a sua ação é agora mais de condução política do que executiva.  Neste caso, estamos perante alguém que tem a sua vida facilitada, na medida em que, na sua cidade ou vila, as infraestruturas  básicas estão concluídas, os equipamentos básicos e de segunda geração estão a funcionar. Trata-se, neste caso, de acompanhamento e avaliação das dinâmicas económicas, sociais e culturais.  Nas funções políticas voluntárias, o autarca desenvolve uma gestão de proximidade com os seus cidadãos, fora das horas de trabalho,  recebendo apenas ajudas de custo, sendo certo que há realidades no país a exigirem a sua permanência, tal a complexidade de problemas e situações para resolver. Esta nova visão deve ser flexível e  o espelho da velocidade a que cada autarquia se move na senda de um país onde a diferença entre territórios ricos e pobres é cada vez maior.

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