quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Conetividade, Integração e Sustentabilidade-as áreas chave da Mobilidade


O diretor para a Área das Cidades Inteligentes do CEIIA- Centro de Excelência para a Inovação da Indústria Automóvel, Vladimiro Feliz, dá uma entrevista à Revista Smart Cities onde explica o significado de Mobilidade Disruptiva




2015-09-15

Vladimiro Feliz, director de Cidades Inteligentes CEiiA

Mobilidade disruptiva

Uma abordagem centrada nas pessoas e assente em três pilares: conectividade, integração e sustentabilidade. Esta é a forma como o CEiiA (Centro de Excelência para a Inovação da Indústria Automóvel) encara a mobilidade nos dias que correm, revela Vladimiro Feliz. Para o director da área de Cidades Inteligentes do CEiiA, no futuro, a mobilidade urbana tende para mixes de soluções multimodais, nos quais “o cidadão ganhará um poder acrescido e para o qual os diferentes actores terão de se preparar” .

Como vê a evolução da mobilidade nas cidades?
Os desafios das cidades variam em função de diferentes parâmetros – a taxa de urbanização, a taxa de motorização, a maturidade do sistema de mobilidade e transportes, a rede viária, a oferta de soluções de mobilidade de nova geração, o custo energético, os créditos de carbono –, pelo que não há uma solução única que se aplique a todo e qualquer território. Mas há princípios básicos que suportam o processo de decisão de um utilizador de um sistema de mobilidade e transportes: a facilidade na utilização, a pontualidade, o conforto, a capilaridade. Tudo isto a um custo equilibrado e com o mínimo impacto ambiental possível, seja em termos de emissões de CO2, seja em termos de ruído. Os diferentes operadores procuram maximizar as suas receitas sem prejudicar a qualidade de serviço ao cidadão, o que obriga a ser mais eficiente e inovador, quer do ponto de vista operacional, quer do ponto de vista do modelo de negócio, pelo que as parcerias e as soluções de cross-selling que possam diversificar o negócio, maximizando a oferta, e obter ganhos de escala, entre outros, estarão na agenda dos decisores.

 
Qual o papel dos decisores políticos nesta matéria?
As cidades procuram soluções que tornem os territórios fáceis para quem os vive, visita, ou que neles investe ou trabalha, respondendo sempre que possível às questões enunciadas anteriormente. Pelo que a mobilidade será sempre um layer importante para aqueles que têm responsabilidades na gestão das cidades. Nesse sentido e se olharmos para as novas tendências de mobilidade, estarão cada vez mais assentes em mixes de mobilidade multimodal que privilegiarão o transporte colectivo e soluções de uso partilhado, em detrimento de soluções de transporte individual. É neste novo cenário que o cidadão ganhará um poder acrescido e para o qual os diferentes actores terão de se preparar, do ponto de vista do negócio e da estratégia de inovação. Sendo certo que este caminho de mudança terá de ser feito de forma gradual, reconvertendo alguns agentes e alguns negócios actuais no sentido de que estes façam, sempre que possível, parte da solução futura.

 
Como podemos aliar uma estratégia para a mobilidade com a adaptação às alterações climáticas, tendo em conta a experiência do CEiiA?
Toda a abordagem do CEiiA às questões de mobilidade está assente em três pilares: a conectividade, a integração e a sustentabilidade, seja esta económica, seja ambiental ou social. Privilegiando sempre a redução de custos e tempos de deslocação, a minimização de emissões de CO2 e promovendo a utilização de fontes de energia de base sustentável. A nossa abordagem ao processo de mobilidade, seja de pessoas, seja de bens, altera radicalmente o modo como actualmente se olha para a forma como nos movemos.

 
Como assim?
Ao privilegiarmos a integração de todo o ecossistema de mobilidade de um território, com base no sistema mobi.me®, integrando todos os verticais relacionados com o processo de mobilidade – parqueamento, carregamento eléctrico, portagens, táxis, soluções de uso partilhado de veículos, transportes colectivos –, o processo deixa de ser conduzido pelo modo como nos movemos (veículo próprio, transporte colectivo, soluções de uso partilhado de veículos, pedonal…) para privilegiar o mix de mobilidade mais adequado ao perfil do utilizador e à necessidade específica do momento, privilegiando sempre a redução de custos, tempos e emissões de CO2. Promovendo a eficiência energética dos territórios, com base nos princípios de maior eficiência do ecossistema de mobilidade, indução de comportamentos ambientalmente sustentáveis, redução do número de veículos em circulação, promoção de novos modos e serviços de mobilidade com base em soluções economicamente e ambientalmente mais sustentáveis, potenciamos o processo de evolução das cidades para realidades mais eficientes, com melhor qualidade de vida, com menos poluição e mais amigas do ambiente.

 
Que papel tem uma plataforma como a mobi.me® neste contexto?
O mobi.me® é o elemento central de toda a estratégia do CEiiA para a mobilidade nas cidades. Este sistema desenvolvido por uma equipa de engenheiros do CEiiA foi recentemente reconhecido pela ONU, na conferência do clima realizada em Lima, no Peru, como o primeiro sistema de gestão e monitorização de mobilidade capaz de medir emissões de CO2 em tempo real, no âmbito do ecossistema ou das diferentes operações de mobilidade de um território. Ao viabilizar a integração das diferentes operações de mobilidade de um território, o mobi.me® permite ao cidadão ou a um operador logístico, com base no acesso a um portal da internet ou a uma App, num tablet ou num smartphone, decidir qual a melhor forma de se deslocar, tendo em conta o tempo, custo, conforto, conveniência e impacto ambiental das alternativas de deslocação ao seu dispor. Ao utilizar um sistema de autenticação único na interacção com todo o ecossistema de mobilidade, o cidadão poderá pagar a sua factura de mobilidade de forma agregada, com todos os consumos consolidados, assumindo aqui a mobilidade o papel de uma utility.


Do ponto de vista da inovação nos serviços, que potencial apresenta esta plataforma para o tecido empresarial?
Do ponto de vista do desenvolvimento económico, nomeadamente das empresas e das suas dinâmicas de inovação, o mobi.me® assume um papel disruptivo na indústria da mobilidade. Ao reinventar o processo de mobilidade das cidades, o mobi.me® vem desafiar os diferentes stakeholders a olharem para o processo de uma forma integrada, o que, até hoje, apenas acontecia no âmbito de parcerias muito específicas e controladas. Ao fazerem parte de algo maior, uma plataforma de gestão da mobilidade comum à cidade, os diferentes operadores terão de inovar, pela indução deste processo de mudança, ao nível do seu negócio tradicional. Esta abordagem integrada permitir-lhes-á crescer na cadeia de valor do processo de mobilidade, através da introdução de novos modelos de negócio, novos serviços ou modos de operação.


Pode dar um exemplo?
Imaginemos um operador tradicional de autocarros que, para resolver problemas de capilaridade da sua oferta actual de transporte colectivo, implementa uma operação de bikesharing, melhorando, desta forma, a qualidade de serviço ao cidadão e reduzindo os custos de operação. Ou um proprietário de um edifício que é convertido num parque de estacionamento que, ao integrar o seu negócio na plataforma mobi.me®, posiciona a sua oferta como uma solução de park&ride de suporte à rede de mobilidade e transportes da cidade. O potencial de criatividade e inovação é enorme, mas é crítico que seja gerador de valor e negócio para a sociedade. A capacidade de o mobi.me® gerar conhecimento (histórico, em tempo real e preditivo) de todo o ecossistema de mobilidade do território, podendo este ser disponibilizado de forma livre (open knowledge) pelas autarquias, potencia o aparecimento de novas soluções, novos serviços, sem investimento directo das autarquias, dinamizando o empreendedorismo territorial e o aparecimento de novas start-ups geradoras de emprego e inovação.


De que forma este tipo de solução inteligente permite criar experiências personalizadas para os cidadãos?
Desde logo a possibilidade de cada cidadão poder desenhar em função das suas necessidades, conveniência e expectativas a sua experiência de mobilidade quotidiana, seja do ponto de vista da vida profissional, seja de lazer, e poder, quer o mobi.me® quer o utilizador, “aprender” com o histórico de utilização, adequando as sugestões ao seu perfil. Mas podemos destacar, por exemplo, o processo de reserva de uma viatura num sistema de uso partilhado de veículos eléctricos, onde a determinada hora e local o veículo pode estar disponível, com as baterias carregadas e com a customização do ambiente de utilização devidamente configurada. Permite ao utilizador aceder à oferta de estações de recolha, tipologia e disponibilidade de veículos, aceder em cada momento a dados da sua experiência de utilização (distância percorrida, energia consumida, pontos de carregamento na envolvente, interfaces com outros modos de transporte, pontos de interesse em função do perfil do utilizador, …) e efectuar o pagamento destes serviços através de uma App ou através da factura mensal integrada de mobilidade. Um outro caso é o de um utilizador habitual de uma carreira de transportes colectivos poder, por exemplo, ser proactivamente notificado: de atrasos, alterações na rota, alteração de condições de serviço, do tempo estimado para chegar ao seu destino, de alternativas em caso de congestionamento ou avaria, ou poder ser notificado X tempo antes de o autocarro chegar à sua estação habitual. Estes são alguns exemplos de como o mobi.me® pode melhorar o processo de mobilidade dos cidadãos. Poderíamos detalhar muitos mais, uma vez que o elemento central do processo de desenvolvimento da estratégia de mobilidade do CEiiA e, consequentemente, do mobi.me® são as pessoas.


Qual seria o cenário ideal para a mobilidade urbana?
Resumo aquilo que seria a cidade perfeita, citando uma frase que, não sendo da minha autoria, resume o essencial: “…uma cidade evoluída é uma cidade em que os cidadãos, independentemente da sua condição económica, utilizam o transporte colectivo em vez do transporte individual…”, alargando aqui o âmbito a soluções de mobilidade de nova geração, como seja as de uso partilhado de veículos.

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