Publicado in Diário do Minho-20 de Setembro de 2015
Há hábitos na vida que exigem
ruturas. Nem sempre são fáceis. A incompreensão emocional supera a razão da
necessidade. Somos humanos.Não raras vezes, perdemos a oportunidade por
querermos gerar consensos. Nem sempre é possível fazer tudo o que é preciso e
não esperar receio de quebra de confiança. É possível, caro leitor, acrescentar
a estas frases outras tantas, mas o quotidiano é feito de contradições,
sobretudo quando queremos que os cidadãos tomem decisões que alteram o seu
ritmo e o seu conforto. É isso que acontece quando falamos de Mobilidade
Urbana .
Esta é a semana propícia para uma
reanálise ao que fazemos, à nossa postura e ao nosso enfoque individual e
coletivo. Peões, condutores, bicicletas, carros, transportes públicos e/ou
privados- fazem parte de um caldeirão de onde raramente alguém sai a ganhar em
absoluto, mas, de onde, sobretudo, se quer que ninguém sai a perder na
totalidade. As partes querem todas o seu V de vitória e isso só acontece quanto
somos capazes de escrever uma Aliança que permita sinergias , mas também um
voltar de página. Impor a redução de velocidade de circulação com tudo o que
isso implica no tempo de viagem é uma rutura com a tranquilidade com que
automobilistas encaram a circulação dentro das cidades. Aumentar a velocidade,
reduzindo o tempo de transporte coletivo, é um rutura com a impaciência e a
inutilidade com que muitos conotam o papel aos autocarros, metros de superfície
e comboios. Reduzir o número de paragens é quase pecado, sobretudo porque estão
perto da porta da nossa casa.
Mas é um bom começo, não é? No
Porto, isto está a acontecer, devagar, mas está a acontecer. Primeiro na zona
da Foz, depois na Costa Cabral. Mas há mais, os corredores BUS estão a abrir-se
aos motociclos. E as bicicletas com um código de estrada mais amigo, começam a
ser parte massiva do quotidiano. E assim
se criam ruturas funcionais- que é o que se exige nas orientações estratégicas
europeias. Mas há mais: o problema não é apenas das ruas estreitas com dois
sentidos, estacionamento habitacional e comercial, ou da necessidade de ter
corredores que permitam a fluidez rumo a parques de estacionamento; é um
problema essencialmente de cidadania e de preguiça. É ou não razoável andar a
pé algumas centenas de metros a partir de um ponto de chegada de automóvel em
direção a uma área comercial, de trabalho ou de lazer dentro das cidades? É ou
não razoável alargar o perímetro do transporte coletivo nas ruas e avenidas? É
ou não razoável criar o sistema em circuito fechado dos autocarros, metro de
superfície com menos paragens – com recurso a energia limpa-? Faz sentido criar
parques de estacionamento alternativos nos pontos de chegada e partida das zona
urbanas? Faz sentido que o número de viaturas privadas de carácter familiar
possa ser penalizado em função do
consumo de Co2? Tudo parece fazer sentido e tudo parece ser tão difícil de
comungar, que dificilmente conseguimos discernir outras alternativas. Sem
ruturas de comportamento, sem ações premeditadas e assumidas, sem campanhas
massivas, todas as semanas que dediquemos à Mobilidade serão provavelmente
esquecidas no dia seguinte, ou o seu impacto tenderá a ser medianamente
aceitável. Há um bom princípio da Gestão que nos ensina a fazer a Mudança com
as pessoas e não contra as pessoas. Mas nem sempre as pessoas reconhecem a
necessidade ou a pressa de alterarem hábitos. Têm de ser induzidas pela
restrição, pela inevitabilidade, se quiserem, pela inviabilidade de
alternativas que possam ser parecidas com semi-ruturas.
A mobilidade está centrada nas
pessoas, na construção de condições ao usufruto de mais novos e de mais velhos,
na utilização racional e responsável dos transportes, na melhoria do planeamento
subjacente à localização das atividades económicas e de fluição massiva de
colaboradores. Mobilidade também significa capacidade de gestão do conforto e
segurança de trajetos. Mas sobretudo, Mobilidade significa combinação, acesso a
informação online on time, visão integrada georreferenciada e Mudança de paradigma; capacidade de
liderança na Atitude. Isso é o que de forma sintética se pode sinalizar como
fazendo parte da Gestão Inteligente de Cidades onde quer que elas estejam, onde
quer que cada um de nós habite.
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