segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Mobilidade: Alguém disse que era fácil?


Publicado in Diário do Minho-20 de Setembro de 2015







Há hábitos na vida que exigem ruturas. Nem sempre são fáceis. A incompreensão emocional supera a razão da necessidade. Somos humanos.Não raras vezes, perdemos a oportunidade por querermos gerar consensos. Nem sempre é possível fazer tudo o que é preciso e não esperar receio de quebra de confiança. É possível, caro leitor, acrescentar a estas frases outras tantas, mas o quotidiano é feito de contradições, sobretudo quando queremos que os cidadãos tomem decisões que alteram o seu ritmo e o seu conforto. É isso que acontece quando falamos de Mobilidade Urbana .
Esta é a semana propícia para uma reanálise ao que fazemos, à nossa postura e ao nosso enfoque individual e coletivo. Peões, condutores, bicicletas, carros, transportes públicos e/ou privados- fazem parte de um caldeirão de onde raramente alguém sai a ganhar em absoluto, mas, de onde, sobretudo, se quer que ninguém sai a perder na totalidade. As partes querem todas o seu V de vitória e isso só acontece quanto somos capazes de escrever uma Aliança que permita sinergias , mas também um voltar de página. Impor a redução de velocidade de circulação com tudo o que isso implica no tempo de viagem é uma rutura com a tranquilidade com que automobilistas encaram a circulação dentro das cidades. Aumentar a velocidade, reduzindo o tempo de transporte coletivo, é um rutura com a impaciência e a inutilidade com que muitos conotam o papel aos autocarros, metros de superfície e comboios. Reduzir o número de paragens é quase pecado, sobretudo porque estão perto da porta da nossa casa.
Mas é um bom começo, não é? No Porto, isto está a acontecer, devagar, mas está a acontecer. Primeiro na zona da Foz, depois na Costa Cabral. Mas há mais, os corredores BUS estão a abrir-se aos motociclos. E as bicicletas com um código de estrada mais amigo, começam a ser parte  massiva do quotidiano. E assim se criam ruturas funcionais- que é o que se exige nas orientações estratégicas europeias. Mas há mais: o problema não é apenas das ruas estreitas com dois sentidos, estacionamento habitacional e comercial, ou da necessidade de ter corredores que permitam a fluidez rumo a parques de estacionamento; é um problema essencialmente de cidadania e de preguiça. É ou não razoável andar a pé algumas centenas de metros a partir de um ponto de chegada de automóvel em direção a uma área comercial, de trabalho ou de lazer dentro das cidades? É ou não razoável alargar o perímetro do transporte coletivo nas ruas e avenidas? É ou não razoável criar o sistema em circuito fechado dos autocarros, metro de superfície com menos paragens – com recurso a energia limpa-? Faz sentido criar parques de estacionamento alternativos nos pontos de chegada e partida das zona urbanas? Faz sentido que o número de viaturas privadas de carácter familiar possa ser penalizado  em função do consumo de Co2? Tudo parece fazer sentido e tudo parece ser tão difícil de comungar, que dificilmente conseguimos discernir outras alternativas. Sem ruturas de comportamento, sem ações premeditadas e assumidas, sem campanhas massivas, todas as semanas que dediquemos à Mobilidade serão provavelmente esquecidas no dia seguinte, ou o seu impacto tenderá a ser medianamente aceitável. Há um bom princípio da Gestão que nos ensina a fazer a Mudança com as pessoas e não contra as pessoas. Mas nem sempre as pessoas reconhecem a necessidade ou a pressa de alterarem hábitos. Têm de ser induzidas pela restrição, pela inevitabilidade, se quiserem, pela inviabilidade de alternativas que possam ser parecidas com semi-ruturas.
A mobilidade está centrada nas pessoas, na construção de condições ao usufruto de mais novos e de mais velhos, na utilização racional e responsável dos transportes, na melhoria do planeamento subjacente à localização das atividades económicas e de fluição massiva de colaboradores. Mobilidade também significa capacidade de gestão do conforto e segurança de trajetos. Mas sobretudo, Mobilidade significa combinação, acesso a informação online on time, visão integrada georreferenciada  e Mudança de paradigma; capacidade de liderança na Atitude. Isso é o que de forma sintética se pode sinalizar como fazendo parte da Gestão Inteligente de Cidades onde quer que elas estejam, onde quer que cada um de nós habite.




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