sexta-feira, 4 de setembro de 2015

As cidades e a bola quadrada em dia de eleições

A marcação de jogos em dia de eleições por parte da Liga é o corolário da incapacidade material que vem sendo revelada ao longo dos anos de combate à abstenção. Provavelmente, no dia 4 de Outubro, muitos (poucos) portugueses farão o "favor" aos partidos políticos de irem votar, seguindo depois para os estádios. Outros vão deslocar-se manhã cedo para os campos dos adversários que distam dezenas e/ou centenas de quilómetros e deixarão para o fim a ida às urnas, o que não irá acontecer porque o futebol acaba tarde, as filas de trânsito eram muitas, os pais estão cansados, há birra no carro, pelo que o melhor é ir mesmo para casa. E os que acordarem tarde, e os que tem hábito de irem visitar a família, ou almoçar fora, ou irem simplesmente ao parque, se o tempo deixar, começar uma sandoca. E os que simplesmente acham que ficar em casa é melhor, porque já se sabe quem ganha, são sempre os mesmos. E os que não podem sair porque não tem dinheiro para o autocarro e os que desesperados, sem dinheiro para o prato da sopa, não esperam, desesperam. E os que acham que até vale a pena ir às urnas e chegam ao fim abanam a consciência e lá suspiram: foi pena. Eu até queria ir, mas estava sem vontade! E os que vão ver o seu clube perder na televisão, no café, no estádio? E os que, sabendo tudo isto, vem o valor do seu voto multiplicar estatisticamente à custa dos abstencionistas?  
Como podemos aspirar que as cidades tenham uma relação de cidadania para com os seus eleitores quando estes dão pontapés nas oportunidades e como podemos almejar ter uma relação inteligente entre cidades e pessoas quando uns quebram a "obrigação" do exercício maior que é de escolher. Abdicando do princípio de escolha, corremos o risco de que a bola seja cada vez mais quadrada, perdendo-se o direito à vitória. É simplesmente uma derrota da Cidadania.

 

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