A verdade inconveniente.
Nesta história não há
vencedores nem vencidos, mas uma realidade, que escapa ainda à sensibilidade
das cidades portuguesas, mas é viral nos quatro cantos do mundo onde há já uma
longa experiência no desenvolvimento de projetos de base tecnológica. Trata-se da necessidade
de repensar o conceito e a aplicação de medidas associadas às cidades ditas
inteligentes.
O relatório inglês
elaborado pelo Fundação Nesta dá nos uma dimensão global do problema desde
Amesterdão, a Beijing, de Londres a Jacarta-realidades e culturas distintas com
o mesmo problema: investimentos com pouco retorno e primazia da tecnologia em
desfavor da resolução dos problemas concretos dos cidadãos- nada que eu já não
tenha aqui referido.
. O documento da autoria de Tom Saunders e Peter Baeck é claro na avaliação ao chumbar muitas das ações desenvolvidas naquelas cidades, criando um divórcio entre a sociedade e a gestão urbana . Intitulado “Repensar as cidades inteligentes a partir do zero”, nomeiam alguns “pecados mortais”: começar o projeto com a aplicação de tecnologia que não responde aos problemas da sociedade; dificuldade e insuficiência na demonstração das evidências; falta de comparação com as metodologias e resultados noutras cidades e pouco envolvimento dos cidadãos.
. O documento da autoria de Tom Saunders e Peter Baeck é claro na avaliação ao chumbar muitas das ações desenvolvidas naquelas cidades, criando um divórcio entre a sociedade e a gestão urbana . Intitulado “Repensar as cidades inteligentes a partir do zero”, nomeiam alguns “pecados mortais”: começar o projeto com a aplicação de tecnologia que não responde aos problemas da sociedade; dificuldade e insuficiência na demonstração das evidências; falta de comparação com as metodologias e resultados noutras cidades e pouco envolvimento dos cidadãos.
Em
resposta a estas insuficiências, os especialistas apontam a necessidade de uma
maior coordenação que coloque os cidadãos no centro dos projetos, utilizando o
seu potencial inovador, mobilizando o conhecimento coletivo e envolvendo as
pequenas empresas. Mais, é importante
que as cidades apostem em pessoas inteligentes e não apenas em tecnologias
inteligentes. Os recados no Relatório são claros para quem pretende ser líder
de uma cidade inteligente: “tenham a mesma consideração pelas pessoas do que
tem pelas tecnologias”, defendendo, por exemplo, a criação de laboratórios
públicos de acesso fácil as pessoas para que possam dar o seu contributo nas
mais variadas formas. Um argumento que vem na senda do pensamento do
especialista Phil Beard que acaba de trocar a IBM pela Amey onde é responsável
pela gestão da dados e onde o espera tarefa de construir um novo conceito de
cidade inteligente. Num balanço ao que tem sido feito no Reino Unido, mercê da
adesão massiva das ciddes a plataformas tecnológicas para incrementarem o
conceito, Phil Beard não tem papas na língua ao considerar que existem seis
verdades inconvenientes em torno deste conceito: a primeira é pensar que a
cidade inteligente 8Smart City) é um conceito tecnológico quando efetivamente
se trata de uma mudança na politica que adapta uma das mais poderosas forças
económicas e sociais do nosso tempo (a tecnologia) às necessidades dos lugares
onde a maior parte das pessoas vivem. Por outro lado, as cidades nunca serão
inteligentes se os seus líderes não se envolverem e em terceiro não se pode deixar
as cidades à mercê do mercado,”
precisamos de coragem para moldar o
mercado”. Outras das verdades inconvenientes lembra-nos o divórcio entre as
necessidades das pessoas que desejam uma vida melhor para si, para as famílias,
negócios e comunidade e os recursos existentes nem sempre distribuídos de modo
a que cada um possa ter a oportunidade de melhorar a sua vida. A juntar estas
quatro verdades inconvenientes aquele especialista acrescenta a necessidade de
contar a verdade às pessoas, lembrando, por fim, que ninguém poderá fazer este
trabalho por nós, temos de ser nós a fazê-lo por nós próprios.
As
duas visões clarificam e consolidam aquilo que é hoje fruto de debate na União
Europeia: uma deturpação do conceito, uma má avaliação do seu potencial e um
uso desproporcionado da tecnologia. Coincidência ou não, a agência
especializada para as tecnologias de informação das Nações Unidas anunciou esta semana a criação de um grupo de estudo para a definição de
requisitos que normalizem o uso da Internet das Coisas, nomeadamente quando se
aplicam às cidades inteligentes. Uma preocupação que caminha lado a lado com o
desenvolvimento de novos conceitos tecnológicos que não param de evoluir: a
computação cognitiva nas cidades, abordada esta semana em Lisboa, é um deles-
uma evolução que nos deve fazer refletir sem anátemas nem visões glorificantes.
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