segunda-feira, 13 de julho de 2015

O Último Quilómetro

Quando li na passada quarta-feira o título de um texto da jornalista Catarina Falcão, do Observador, sobre o anúncio de novas regras só para Bicicletas da cidade de Paris , confesso que pensei estar perante um código de conduta, o que não deixando de ser verdade, é bem mais do que isso: a curta revela trata-se de um projeto arrojado para encorajar os parisienses a usarem mais bicicletas, colocando sinais de cedência de passagem aos veículos de duas rodas em várias zonas da cidade. Esta é uma das muitas intervenções que estão a ser desenhadas em toda a Europa. Todos procuram inovar neste capítulo com um único objetivo: manter uma mobilidade ativa e substituir progressivamente os veículos poluidores. Paris vai investir 150 milhões de euros neste projeto com o qual pretende triplicar o número de bicicletas em circulação, criar novas vias, controlar a velocidade para carros e disponibilizar 10 mil lugares de estacionamento para bicicletas.
Por cá, o único passo positivo na semana que agora finda foi dado por iniciativa da Direção Geral de Saúde que quer o Parlamento a discutir a inclusão do uso de bicicleta no percurso casa-escola no seguro escolar. Noutro capítulo, percebeu-se que há uma intenção do Quadrilátero Urbano do Minho para desenvolver um projeto de transporte comum aos municípios do Cávado e Ave sob o chapéu de uma autoridade regional a ser criada até 31 de Dezembro de 2019. Quatro anos? Parece-me uma enormidade para a urgência que o assunto merece. Isso significa que uma perspetiva regional de mobilidade vai ter de esperar por um novo mandato que não se sabe se terá os meus protagonistas. Mas mesmo que assim aconteça, não se percebe tamanha diferença entre a intenção e a concretização. Aliás, basta olhar para a discussão que o assunto está a merecer nas instâncias europeias, nomeadamente no Parlamento Europeu, através das suas comissões especializadas, para se perceber que o assunto é urgente e que as opções são ambiciosas. A Europa discute uma estratégia de longo prazo (2050) para a redução do impacto negativo dos transportes, uma de médio prazo (2030) para duplicar o uso de transporte público, sem deixar de trabalhar com dados de hoje e com opções de curto prazo. Como em muitas regiões portuguesas (com exceção das áreas metropolitanas), o trabalho está na Idade da Pedra, é fácil perceber as dificuldades de resposta e como transborda a falta de pragmatismo para combater as dificuldades habituais que este tipo de projeto contempla, nomeadamente a de viabilizar sinergias entre todos os agentes intervenientes. Não se trata apenas de investimento, mas de políticas e de protagonistas. A questão de fundo deve ser, igualmente, enquadrada pelos estímulos europeus à criação de Planos de Mobilidade Urbana Sustentável (PMSU) para as cidades e regiões. Apesar de estarmos no capítulo das sugestões, parece haver uma tendência nesta discussão para agregar os apoios em torno de transportes não poluentes, acessíveis e inovadores, promovendo a multimodalidade e a mobilidade em contexto regional amplo e com um sistema de repartição de custos entre os organismos públicos e os privados. Muitas destas opções estão ou serão enquadradas pela iniciativa Civitas 2020, são apoiadas pelo Pacto de Autarcas e enquadram-se no conjunto de iniciativas que sustentam o conceito de cidades inteligentes. Um inquérito do Eurobarómetro, sobre esta matéria, junto dos cidadãos diz tudo sobre o que é preciso fazer e rapidamente: diminuir os custos dos transportes públicos (59%), melhorar o serviço do transporte público (56%) e melhorar as infraestruturas para bicicletas (33%). Para complementar, o uso das tecnologias de informação tem uma preponderância de peso ao criar condições para que a deslocação potencialmente desnecessária seja substituída pela  teleconferência em paralelo com o uso de sistemas de Transporte Inteligentes e sistemas de infomobilidade. Tudo para que, citando, os eurodeputados que fazem parte da Comissão do Ambiente, Saúde Pública e Segurança Alimentar do Parlamento Europeu: “ os planos de deslocações casa-trabalho e os padrões multimodais e intermodais, tenham em linha de conta que o transporte público se torna muito mais atraente quando o último quilómetro é fácil de percorrer”. E isso raramente acontece em Portugal e está longe de acontecer no Minho.

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