segunda-feira, 27 de julho de 2015

Nós sabermos tudo acerca de si

O Relatório da McKinsey Global Institute sobre o potencial da Internet das Coisas aponta-nos vários caminhos, alguns deles conhecidos e enriquecedores, outros, devastadores. É  preciso  esclarecer que a dimensão e potencial quer no uso, quer na escala supera largamente a perspetiva desta crónica que incide sobre aquilo que, defendo, deve ser um VAU- Valor Acrescentado Urbano destinado a aquilatar da importância que este ou aquele investimento tem no todo de um município.
O que o Relatório da consultora demonstra é, desde logo, duas coisas: o impacto global da Internet das Coisas em 2025 será de 11.1 triliões de dólares em nove áreas, uma das quais é a das cidades que poderá atingir 10 por cento daquele valor; a outra é a de que estamos muito longe de otimizar o seu uso(1 por cento)- conclusão obtida a partir da análise de 150 casos Por outro lado, o retrato refere que há demasiado foco na indústria quando o potencial económico deve ser olhado de forma transversal, sobretudo para um conjunto de nove áreas: casa, área do retalho, escritórios, locais de trabalho, veículos, pessoas (saúde e bem estar), logística, navegação e cidades.
O relatório coloca o foco na necessidade de não esquecer o B2B-comunicação entre as partes interessadas que pode potenciar a resolução de problemas e o facto de se estar a ignorar a interoperabilidade. Neste capítulo, importa reter uma conclusão que é deveras importante: não se pode pensar na interoperabilidade como uma nova forma de sinergia  para aumentar o todo sem aumentar a soma das partes, subestimando o impacto no desenvolvimento económico. Uma sinergia bem feita pode valer 40 por cento do valor económico que se estaria a obter da habilidade do uso de dispositivos físicos. Mas mais do que isso; a McKinsey considera que não estamos a estimar o impacto no desenvolvimento económico dos países. Por último, a IOL pode ajudar a criar novas áreas de negócio. Duas semanas depois da publicação deste Relatório, o The Wall Street Journal publicava um extenso artigo sob  título “Smart Cities-Will Know Everything about you”- «Cidades Inteligentes- Sabemos tudo acerca de si»; um texto em que se identificam os perigos evocados no texto que escrevi aqui nestas páginas intitulado “A Verdade Inconveniente” que pode ler no blog. Mais do que as vantagens e/ou os perigos abordados de forma genérica, o que parece também estar em causa, reside no próprio conceito da Internet das Coisas e o que isso significa nas mãos de alguém sem ética: a possibilidade de os dados recolhidos serem utilizados (vendidos ou corrompidos) a mando de empresas sem escrúpulos que os põem à venda no mercado das necessidades, é uma ameaça séria que exige uma Gestão de Risco para a qual poucos estão preparados.  O potencial de utilização da Informação Tecnológica (IT) e da Operação Tecnológica (OT) esteve, aliás em discussão esta sexta-feira (dia 24), no decurso de um seminário online orientado por Shelly Dutton.  A autora de um texto sobre como operacionalizar a Internet das Coisas, lembrava os quatro aspetos essenciais para potenciar o uso da IOT: tomada de decisão bem pensada e fundamentada; controlo seguro dos sistemas de dados; fiabilidade na governação e otimização dos recursos humanos e tecnológicos com o objetivo de criar valor acrescentado.
Entre pecados e virtudes, a Internet das Coisas está envolvida noutra polémica: o seu conceito é varável tal como a sua dimensão e objeto, a ponto de começar a ficar claro que há uma tentativa de apropriação da gestão, infletindo o conceito ora para um lado, ora para o outro. Para se perceber melhor, basta atentar aos recentes conceitos que a Internet das Coisas potenciou:  a Internet das Coisas Normais; de Todas as Coisas; da Energia das Coisas; das Pessoas e por fim a Variedade das Coisas.  Uma panóplia de conceitos que ajudam a perceber porque é que na Conferência sobre  Inovação nas Cidades, realizada recentemente em Nice, França muitos se questionaram se não se está a caminhar para o fim do conceito de cidades inteligentes, tal é a promiscuidade e a insegurança que estão a marcar o quotidiano das Coisas.

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