segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Anatomia de uma cidade viva

Há cerca de três anos atrás, data em que iniciei esta aventura de refletir publicamente sobre Gestão Urbana Inteligente, enunciei alguns princípios que considerava e considero serem fundamentais para que as cidades possam ser competitivas , inclusivas e sustentáveis. Parti sempre de uma ideia base fundamental: a cidade é um ser vivo e como tal tem de ser tratado. Tudo o que fizermos nela, com ela e para ela, tem consequências que tanto podem criar feridas, serem fatais, ou num cenário mais otimista, garantir a viabilidade económica, social e ambiental.. Neste puzzle, em que acabámos por, na maior parte das vezes, ser reativos, reside, igualmente, uma panóplia, de diagnósticos, soluções e tecnologia que chegue, acabando sempre por sobrar mais perguntas do que respostas. Se há conclusão possível de retirar ao longo destes três anos, é que há consenso para um conjunto de questões diagnosticadas, comuns a todas as cidades, sejam elas no hemisfério Norte e/ou sul. A diferença reside, em muitos casos, na forma como os problemas são “embrulhados” e apresentados e, em alguns casos, nos conceitos usados. Deparei-me há dias com uma situação do género. Associada ao conceito de cidade enquanto ser Vivo, o City Protocol Society (criado em 2012, em Barcelona por dezenas de representantes de cidades, universidades, homens de negócio e outras organizações), redigiu um documento, conhecido pela Declaração de Barcelona, que definiu como objetivo, trabalhar em áreas tão sensíveis, como a agenda da liderança, comunicação estratégica, criação de conteúdo e a Anatomia da cidade. É precisamente com este último conceito, que se encontra paralelismo no alcance, mas não no método. Sem coincidência no tratamento do todo, a que está associada a ideia de visão integrada que defendo para a gestão da cidade, a ideia da Sociedade tem como suporte o conceito anatómico suportado por um conjunto de indicadores standarizados (ISSO 37120) e incluídos em três ideias fortes: sustentabilidade, Resiliência, Qualidade de Vida, aos quais acrescenta mais algumas dezenas. O propósito da visão anatómica da gestão urbana é que sejam medíveis, sem ambiguidades e fáceis de calcular a qualquer momento, sem custos adicionais, organizando-os em três grandes conceitos; estrutural, interações e sociedade. Esta preocupação pragmática está subjacente em ambos os conceitos, com uma diferença que, entendo, distingue de forma calara o tratamento dado. Do meu ponto de vista, gerir um ser vivo pressupõe flexibilidade, análise integrada e incisão, o que não acontece para o conjunto de indicadores propostos pelo City Protocol. Todavia, há perguntas comuns: a nossa cidade é auto-suficiente? Como é que as cidades podem melhorar a Mobilidade? Será que é Resiliente? Como é que podem atrair talento e investimento? E como se pode melhorar a equidade social aumentando o leque de oportunidades? E o espírito empresarial? Como é que se promove? E já agora: como se melhora as condições de habitabilidade e a qualidade de vida? Nestas questões, os dois conceitos coincidem, da mesma forma que em ambos os casos, o objectivo de criar indicadores mensuráveis, tem a mesma base inicial: identificar os desafios da cidade, acesso às funções e serviços básicos da cidade, comparar a performance, priorizar as iniciativas que acrescentam valor e ajudam a transformar a cidade e avaliar o seu impacto. A iniciativa nacional da norte americana Blomberg Filantrópica é mais incisiva e resume em quatro ideias chave, o conceito standar que estamos a abordar. Em Primeiro, o Compromisso, depois, a Avaliação. Segue-se a Medida e a Ação para responder ao repto lançado a nível nacional nos Estados Unidos: como é que as cidades funcionam. Não é fácil assimilar este conjunto de conceitos se, ainda por cima, lhe acrescentarmos a biodiversidade urbana, enquanto instrumento de gestão da visão integrada e a visão preditiva; ou seja a capacidade de obter informação atempadamente, a partir de dados recolhidos sobre o funcionamento das cidades, que lhe permite atuar por antecipação. Neste enorme bolo cheio de ingredientes novos e pouco conhecidos, o único concelho possível, é a procura de consenso para que tudo o que é belo neste ser vivo e na sua anatomia, possam vingar em nome do futuro das pessoas e das cidades.

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