segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

2040 é já amanhã!







Vivemos um tempo em que os territórios rurais procuram soluções para enfrentarem o Golias urbano que ameaça há demasiado tempo a sua ancestral humanização. As diligências que estão a ser feitas pelos municípios e pelas organizações da sociedade civil de baixa densidade, ainda não foram capazes de capitalizar a força da ameaça à sua sobrevivência, transformando-a numa oportunidade. Assistimos ao desenrolar de um conjunto de enunciados, de programas, de investimentos, de soluções, de promoções sem tradução numa estratégia do território que verdadeiramente seja capaz de envolver as pessoas na solução. De tal modo assim é que sem disfarce e de forma passiva vimos partir a geração mais bem preparada. Portugal ainda não foi capaz de redesenhar o território em função das necessidades das pessoas. Assistimos de forma suave” ao enunciado sem uma ação critica e proactiva dos agentes da mudança e mesmo assim aceitamos “a desvalorização dos ativos do território e a depreciação dos investimentos entretanto realizados”, citando o especialista António Covas. Ou seja, mercê das políticas erradas desenvolvidas ao longo de 40 anos e das sucessivas crises financeiras, o país é hoje uma manta de retalhos sem género. “Estou, sobretudo, a pensar nesse mar imenso que é o <grande país do interior>, nesses concelhos-lar do rural remoto que crescem todos os dias à míngua de esperança e gente empreendedora”, escrevia o autor em Agosto de 2015, lembrando a necessidade de se preparar “a inteligência territorial” da segunda ruralidade, ou seja, a caminho dos territórios rede. A premência de uma intervenção exigente é evidente, tanto mais que os últimos estúdos apontam para que o interior perca um terço da população até 2040, ao contrário das regiões do Cávado, Lisboa, Setúbal e Algarve que não perdem mas também não ganham. Os dados foram trabalhados por investigadores da Universidade de Aveiro e demonstram a necessidade de se evoluir no estudo das causas, ao considerar que os indicadores da população devem estar relacionados com a  evolução da economia. A forma de resolver este historial de insucessos passa por uma visão integrada, multidisciplinar e territorialmente disciplinada de modo a absorver os ditames de um planeamento e ordenamento capazes de afirmar a diferenciação dos territórios interiores. Se as comunidades intermunicipais podem ser uma ajuda, organicamente a solução está dentro de cada município e não podem existir diferentes metodologias se queremos perseguir um objetivo comum que estabeleça a eficiência e a eficácia como parâmetros fundamentais da gestão.
António Covas expõe de forma clara as opções para o que designa como contratos de desenvolvimento para territórios-rede em construção, sustentados por uma espécie de “arranjos” de ordem convencional, institucional e produtivo local. O desiderato obedece a um conjunto de territórios -rede que devem estar identificados e nos quais a diversidade, a quantidade e a qualidade contam. As propostas são múltiplas e diversas mas compreendem em primeiro lugar a assunção do que é a área urbana, o parque natural, o empreendimento turístico, as aldeias ribeirinhas, aldeias especializadas em produtos, por exemplo, as zonas de intervenção florestal. O que parece aparentemente fácil tem sido vitima de sucessivas entropias  que impedem o desenvolvimento dos territórios de forma harmoniosa.
Quando se fala da necessidade de cultivar uma competitividade inteligente, não basta a afirmação legal, circunstanciada e politicamente correta. É claro para o cidadão comum, que o regateio habitual não serve as suas necessidades, exigindo de forma clara uma diferenciação positiva da sua condição e uma aposta na valorização e fixação dos ativos endógenos. Sem este tipo de contratos, 2040 é já amanhã.

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