segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Alimentação Urbana: Uma oportunidade à diferença






Os municípios portugueses estão a entrar numa nova fase, tornando-se parte ativa na definição das políticas de Alimentação Urbana. O Pacto de Milão- documento que estabelece os princípios e as metas associadas ao objetivo de obter sistemas alimentares “mais integrados, justos e sustentáveis” - está a ser assimilado por um número crescente de Câmaras portugueses, enquadrando os seus princípios como vetor estratégico da Qualidade de vida dos seus cidadãos. Mais do que uma convicção sobre orientações, o documento espelha uma dura realidade global que não atinge particularmente este ou aquele país, mas a generalidade dos continentes, com particular incidência nas zonas onde há mais carências ou ausência de segurança alimentar.
O documento, criado no decurso da Expo Milão de 2015, organizada sobre o mote “Alimentando o Planeta, Energia para a Vida”, foi inicialmente subscrito por 100 municípios oriundos de todo o mundo, sem portugueses, mas inicia o ano de 2016 com a adesão de 31 municípios, incluindo Braga. Uma conferência, organizada pela Organização Não Governamental Oikos, conjuntamente com a Direção Geral de Saúde e o Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, abriu as portas ao conhecimento dos números mais recentes: 15 por cento dos alimentos são produzidos em áreas urbanas, sendo previsível que a este número, que é global, se junte a estatística mais severa: 65 por cento da população viverá em cidades em 2025.
 Nas contas da Oikos, a situação portuguesa obriga a criar sistemas que garantam uma articulação entre os diversos níveis da administração pública de modo a desenvolver políticas de combate à insegurança alimentar que atinge milhares de famílias portuguesas.
As dietas saudáveis e seguras, culturalmente “apropriadas, amigas do ambiente e baseadas nos direitos humanos” estão na ementa do Pacto que abre as portas às questões da igualdade social e económica, na proporção da sua ligação com a capacidade financeira dos cidadãos.
Os municípios terão de desenvolver políticas de combate à obesidade na exata medida em que açucares, sal e gorduras possam ser eliminadas de forma equilibrada, sem esquecer os aspetos culturais de uma gastronomia variada e rica que de Norte a Sul alimenta a forma de ser português. O problema principal parece, contudo, residir na incapacidade de adquirir bens alimentares saudáveis e equilibrados às necessidades de cada faixa etária.
A mesma conferência revelou dados que atestam esta dificuldade, partindo do conceito de “Alimentação digna”. O estudo, elaborado pelo projeto “Rendimento Adequado em Portugal”, da autoria de José António Pereirinha, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, chegou á conclusão que as necessidades de um casal com dois filhos para uma “alimentação digna”, atingem os 766 euros, um número muito superior a uma boa parte dos países europeus, o que coloca Portugal entre os mais caros. Aquele investigador apresentou números para outras realidades familiares, mas no conjunto das avaliações, ficou a certeza que houve uma degradação da segurança alimentar segundo os dados de Pedro Graça, diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável e corroborados por Mónica Truninger, investigadora do Instituto de Ciências Sociais, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. O esforço que agora se desenha é tão ou mais pertinente quanto a realidade do estudo da Organização Não Governamental Osfam o demonstra: um quarto da população da EU, ou seja, 123 milhões de pessoas, vive em risco de pobreza.
O combate à crise alimentar tem múltiplas fórmulas e até estratégias, mas é certo que cada cidadão que sinta o problema tende a simplificar e a resumir a sua realidade num apelo que merece e serve de aviso aos que continuam a sonhar com uma Europa integrada, equilibrada e disponível para todos.

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