segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O Homem das Coisas





Haverá um dia que cada um de nós, portadores proativos de várias Coisas, ligadas à Internet, terá direito ao seu drone pessoal, tal como a assistente virtual que se prepara para se instalar comodamente nos nossos aparelhos ditos inteligentes.
Caminhamos seguramente para nos tornarmos um alvo consolidado da Internet das Coisas, fazendo parte dela como elemento virtual do nosso funcionamento enquanto Homem das Coisas . Será possível, por isso, imaginar o que vai acontecer em Abril quando se abrirem as portas, em Braga, ao iDroneExperience: uma explosão de curiosidade virtual, por um lado e de de  experimentação de um serviço autónomo que trará, com certeza, milhares de entusiastas à cidade. Importa dizer que a iniciativa pertenceu ao Instituto Politécnico  do Cávado e Ave e foi imediatamente agarrada por Braga quando Barcelos se tornou pequeno para o impulso que o presidente da instituição universitária pretendeu dar à iniciativa.
De acordo com o programa noticiado na edição online do Jornal de Notícias, o iDroneExperience, em Braga de 22 a 24 de Abril, vai incluir competições do campeonato mundial de drones, veículos a aéreos não tripulados, reunir empresas, escolas e startups naquele que será o "mais completo evento" do género no país.
O espantoso mundo que se abre à sociedade a partir da multiplicação de interligações homem-máquina e da assuncão da mobilidade virtual, que poderá ser apreciada, em parte, nesta manifestação, colide com a verdade nua e crua da ilteracia digital e por isso pode ser uma oportunidade, para despertar a sociedade para um conjunto de desafios traçados a pente fino esta semana pela líder da Autoridade Nacional de Comunicações. Fátima Barros foi forte nas palavras que usou quando comentou o desempenho de Portugal na “nova tabela relativa à utilização da internet entre os 28 Estados-membros divulgada pela Comissão Europeia”. Na utilização da Internet estamos em 23º lugar e ao nível das competências digitais não vamos para além do 21º. É verdade que estamos em 14º na velocidade das redes de fibra ótica, mas isso não nos livra de enfrentar a verdade: “somos velhos, pobres e iliterados”.
Os dados da Anacom parecem contradizer, aparentemente, o índice de Digitalidade da Economia e da Sociedade em que baseou a sua análise que idolatra o feito português de alcançar  “melhores resultados nas redes de banda larga que asseguram uma boa cobertura, serviços públicos online avançados e um desempenho acima da média na digitalização das empresas”. Porém, o progresso português tem um senão: as competências digitais dos seus cidadãos e o grau de adesão às atividades online que lhes “permita participar plenamente na economia e na sociedade digitais”. É aqui que devia entrar o pragmatismo, infelizmente ausente, de quem planeia a estratégia para a Educação ao longo da vida. Como repararam pelos dados, temos do melhor em termos tecnológicos, só nos falta democratizar o acesso e assumir de uma vez por todas que não basta ter boas infraestruturas se não dermos oportunidade às pessoas para usufruírem do que de bom as tecnologias trazem para a vida quotidiana. O iDroneExperience é apenas  mais uma manifestação do que será o futuro Homem das Coisas. ´É expectável que Braga, pretendendo assumir uma posição de liderança, se lançe mais tarde ou mais cedo na organização de uma grande feira virada para o que de melhor se faz e produz no domínio digital e virtual.  
Realizações desta natureza deveriam, igualmente, ser uma oportunidade para discutir a regulação da Internet das Coisas. Apesar de haver alguma tradição na discussão, a Comissão Europeia , ao contrário do Senado e do Congresso dos Estados Unidos, está longe de produzir uma regulação adequada e eficaz quer para  funcionamento da Internet das Coisas, quer para os limites do Homem das Coisas e por via disso, para a utilização de drones e secretárias virtuais.

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