segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Balanço: De quê para Quê



Será possível, ou melhor, é justo fazer um balanço aos dois anos do novo mandato autárquico em Portugal? A pergunta não tem uma resposta fácil. Desde que acompanho a atividade municipal, há mais de 30 anos, que sempre existiu um consenso entre políticos, analistas e jornalistas que são precisos pelo menos dois mandatos para avaliar a qualidade dos propósitos e os resultados, mercê dos objetivos com que esta ou aquele força política se apresentou ao eleitorado. A limitação de mandatos coartou, de alguma forma, a perspetiva de longo prazo com que muitos autarcas se apresentaram ao eleitorado concedendo apenas mais um mandato (três) aos detentores do cargo para concluírem a sua presença nos órgãos locais. Uma limitação que se saúda em nome da rotatividade e da transparência. Pergunta-se então que balanço pode ser feito quando ainda se vai a meio do primeiro dos três mandatos legalmente admissíveis e sufragados de quatro em quatro anos. Possível é e necessário também, mas não pode ser definitivo, sob pena de se tirarem conclusões precipitadas. Por um lado, os eleitores têm no segundo ano uma perceção do estilo, do tipo de gestão mais ou menos personalizada e do que é valorado por cada um dos autarcas nos seus municípios, acabando por ser entendido como um período de “arrumação de casa”. É credível avançar com conclusões?- tenho dúvidas! Diferente é exigir uma postura transparente, facilidade de acesso à informação e às decisões tomadas, aos procedimentos implementados, participar ativamente na gestão, através dos modelos proativos de participação, como também é desejável, que se avaliem comportamentos, desvios ou intenções que possam por em risco a sustentabilidade do município. Essas são regras do jogo democrático que, infelizmente, em muitas autarquias portuguesas está longe de ser uma realidade. Contudo, chegar ao fim de dois anos e avaliar o carácter da gestão, parece-me manifestamente pouco, seja para quem está à frente de uma Câmara ou se encontra na oposição. Fazendo um parêntesis, seria interessante que em Portugal se começasse a avaliar a qualidade da Oposição que chega a ser manifestamente um espelho de verborreia que arrepia qualquer cidadão politicamente consciente. Pergunta-se então: o que fazer com os primeiros dois anos? Sinceramente nada, ou antes, quase nada. É precipitada qualquer avaliação e diz-me a experiência que o exercício de balanço de uns (no poder) e de outros (na oposição), costuma dar em pouco e na maior parte das vezes apenas contribui para criar entropia. Do pouco que sei sobre gestão autárquica, prefiro um acompanhamento mais objetivo, mais pragmático, um juízo baseado em factos concretos. Por exemplo, gostaria de ver os autarcas em início de mandato, como já defendi neste mesmo espaço, a mostrarem indicadores e a apontarem metas que se comprometam a cumprir em determinadas circunstâncias definidas pelo ambiente económico-financeiro, social e ambiental quer no início, quer durante o exercício do mandato. A tradição é, no entanto, pesada e os autarcas gostam de apresentar resultados que obedecem, salvo raras exceções, a um caderno de encargos dejá vú. A legitimidade de manter este balanço nos moldes clássicos, não se questiona, mas merece uma avaliação crítica, não porque se pretenda pôr em causa, o direito à festa, ao momento de exuberância, ao sucesso da arregimentação, mas porque não se entende que a avaliação continue a ser feita nos mesmos moldes, quando se anuncia mudança de paradigma, de atitude e do modus facienti por contraste com o modelo anterior. Hoje, e salvo as situações tipificadas que encontramos em algumas autarquias com maior dificuldade em concluir o nível de infraestruturas básico, não é admissível que se fale de estratégia inovadora, de gestão de proximidade, de abertura à ação, de aprofundamento da cidadania, mantendo práticas pouco consentâneas com a vanguarda dos modelos de gestão que se apregoam nos escaparates e que têm uma tradução prática pouco clara.

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