segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O Petróleo das cidades






Antes de o convidar a ler as linhas que se seguem, queria deixar escrita a minha declaração de interesses: sou adepto e acompanho a evolução tecnológica, reconheço que ela é facilitadora e indutora de qualidade de vida, encurta distâncias, disponibiliza informação e permite tomar decisões rápidas e eficazes. Tenho consciência de que sou fruto da terceira idade das máquinas como lhe chamou o jornalista espanhol Carlos Fresneda e que sou consumidor de dados como ninguém (“ o novo petróleo deste século”- nas palavras de outro jornalista Javier López Tazón). Mas esta consciência do Eu e o meu sentido oportunista da tecnologia é confrontado com outra realidade que quero partilhar este domingo: a semana que terminou foi pródiga em notícias para o universo da gestão urbana, sobretudo para aqueles que assistiram em Barcelona a mais uma edição do Congresso e exposição mundial sobre cidades, à divulgação do Livro Branco sobre cidades inteligentes e à posição alarmante mas realista, digo eu, do Banco de Inglaterra sobre esta matéria, à semelhança do que aconteceu recentemente com Banco norte americano Merril Lynch. Todos sintonizados com o mesmo prego que afunda a ideia de uma sociedade tecnologicamente desenvolvida mas sem empregos para os seus cidadãos. Uma constatação traduzida em números que vale apena aqui recordar: O Banco de Inglaterra estimou que metade dos postos de trabalho atuais (15 dos 33 milhões) vão desaparecer na próxima década, enquanto nos EUA, um estudo similar de Michael Osborne e Carl Frey da Universidade de Oxford concluiu que 47 por cento dos empregos estão classificados de alto risco por se prever a sua automatização. Uma constatação feita a partir da avaliação de 700 profissões. Trabalhos administrativos, contabilidade, atendimento presencial, transporte, construção e extração, banca, governos locais, comércio, cafés e restaurantes serão os afetados. Pelo contrário, o prognóstico norte-americano afirma que para já não correm perigo os trabalhos associados à criatividade, à inteligência social, a alto grau de complexidade e de destreza. A questão é global, mas olhe-se para o plano europeu. De tão simples quanto complexa, a questão do trabalho tem vindo a degradar-se ao longo de décadas, sobretudo nos últimos 60 anos. O desemprego estrutural aumenta, as  medidas são cada vez mais paliativas na renovação do emprego (substituição de velhas por nova profissões) e ninguém parece interessado hoje em fazer as perguntas a que terá de responder amanhã.  Sabendo que a evolução tecnológica é imparável, que cada vez mais dependemos dos sistemas informáticos, que sem as APP’s começamos a ter dificuldade de obter informação e gerir a nossa agenda e que sem um Tablet ou um Smarthpone parecemos um zombie urbano que precisa de se alimentar constantemente nas redes sociais; sabendo tudo isso, impõem-se algumas questões a partir de uma premissa inovadora – é preciso repensar o conceito do trabalho/emprego. Porquê? A não se fazer nada e pegando nas projeções inglesas e Americanas, havendo menos empregos, há menos impostos - as máquinas pagam IRS, descontam para a Segurança Social?. A economia degrada-se, as funções do Estado emagrecem ainda mais. Os especialistas do Banco de Inglaterra estimam que se assista, igualmente, a uma maior desigualdade de oportunidades no acesso ao trabalho, mesmo entre as pessoas mais qualificadas. Como resolver o problema? Repensar o conceito de trabalho é uma delas, taxar os sistemas que utilizam a robótica, a aplicação das tecnologias de informação e a inteligência artificial por cada posto de trabalho suprimido é outra e repartir os custos da redução de horas de trabalho entre empregadores e empregados pode ser uma solução para que se criem mais oportunidades. Está na hora de se avaliar com rigor como conciliar tecnologia, gestão,compra de dados e direito à plena satisfação do ser humano que também se conquista quando se sente útil.

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