Antes de o convidar a ler as
linhas que se seguem, queria deixar escrita a minha declaração de interesses:
sou adepto e acompanho a evolução tecnológica, reconheço que ela é facilitadora
e indutora de qualidade de vida, encurta distâncias, disponibiliza informação e
permite tomar decisões rápidas e eficazes. Tenho consciência de que sou fruto
da terceira idade das máquinas como lhe chamou o jornalista espanhol Carlos
Fresneda e que sou consumidor de dados como ninguém (“ o novo petróleo deste
século”- nas palavras de outro jornalista Javier López Tazón). Mas esta
consciência do Eu e o meu sentido oportunista da tecnologia é confrontado com
outra realidade que quero partilhar este domingo: a semana que terminou foi
pródiga em notícias para o universo da gestão urbana, sobretudo para aqueles que
assistiram em Barcelona a mais uma edição do Congresso e exposição mundial
sobre cidades, à divulgação do Livro Branco sobre cidades inteligentes e à
posição alarmante mas realista, digo eu, do Banco de Inglaterra sobre esta
matéria, à semelhança do que aconteceu recentemente com Banco norte americano
Merril Lynch. Todos sintonizados com o mesmo prego que afunda a ideia de uma
sociedade tecnologicamente desenvolvida mas sem empregos para os seus cidadãos.
Uma constatação traduzida em números que vale apena aqui recordar: O Banco de
Inglaterra estimou que metade dos postos de trabalho atuais (15 dos 33 milhões)
vão desaparecer na próxima década, enquanto nos EUA, um estudo similar de
Michael Osborne e Carl Frey da Universidade de Oxford concluiu que 47 por cento
dos empregos estão classificados de alto risco por se prever a sua
automatização. Uma constatação feita a partir da avaliação de 700 profissões.
Trabalhos administrativos, contabilidade, atendimento presencial, transporte,
construção e extração, banca, governos locais, comércio, cafés e restaurantes
serão os afetados. Pelo contrário, o prognóstico norte-americano afirma que
para já não correm perigo os trabalhos associados à criatividade, à
inteligência social, a alto grau de complexidade e de destreza. A questão é
global, mas olhe-se para o plano europeu. De tão simples quanto complexa, a
questão do trabalho tem vindo a degradar-se ao longo de décadas, sobretudo nos
últimos 60 anos. O desemprego estrutural aumenta, as medidas são cada vez mais paliativas na
renovação do emprego (substituição de velhas por nova profissões) e ninguém
parece interessado hoje em fazer as perguntas a que terá de responder
amanhã. Sabendo que a evolução
tecnológica é imparável, que cada vez mais dependemos dos sistemas informáticos,
que sem as APP’s começamos a ter dificuldade de obter informação e gerir a
nossa agenda e que sem um Tablet ou um Smarthpone parecemos um zombie urbano
que precisa de se alimentar constantemente nas redes sociais; sabendo tudo
isso, impõem-se algumas questões a partir de uma premissa inovadora – é preciso
repensar o conceito do trabalho/emprego. Porquê? A não se fazer nada e pegando
nas projeções inglesas e Americanas, havendo menos empregos, há menos impostos
- as máquinas pagam IRS, descontam para a Segurança Social?. A economia
degrada-se, as funções do Estado emagrecem ainda mais. Os especialistas do
Banco de Inglaterra estimam que se assista, igualmente, a uma maior
desigualdade de oportunidades no acesso ao trabalho, mesmo entre as pessoas mais
qualificadas. Como resolver o problema? Repensar o conceito de trabalho é uma
delas, taxar os sistemas que utilizam a robótica, a aplicação das tecnologias
de informação e a inteligência artificial por cada posto de trabalho suprimido
é outra e repartir os custos da redução de horas de trabalho entre empregadores
e empregados pode ser uma solução para que se criem mais oportunidades. Está na
hora de se avaliar com rigor como conciliar tecnologia, gestão,compra de dados
e direito à plena satisfação do ser humano que também se conquista quando se
sente útil.
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