segunda-feira, 30 de novembro de 2015

O debate necessário





O que une o espanhol Pablo S. Chillon, conselheiro urbano e o presidente da República Portuguesa, Cavaco Silva? Aparentemente, a distância entre ambos é enorme, mas um levantou a “lebre” sobre o impacto dos algoritmos na vida de cada um e na gestão da coisa pública – (“Aceitarias que os algoritmos substituam os governos, a decisão política?” - o outro advertiu para o seu impacto no sentido lato: “Quando tudo se torna digital a sociedade fica mais vulnerável”. Não se trata a meu ver de uma posição radical e/ou conservadora de ambos, mas tão só um aviso à navegação a que urge dar resposta. Em causa, está tão só a vulnerabilidade. No vigésimo Quinto Congresso das Comunicações, organizado pela APDC-Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações, o PR alertou para a necessidade de os decisores olharem para a questão da segurança digital, enquanto na mesma cidade de Lisboa, no decurso de uma conferência sobre “Big Data”,  Francisco Fonseca, presidente executivo da Anubis Networks, lembrou a importância da Internet das Coisas no capítulo da ciber segurança.
Os metas dados são uma oportunidade para melhorar a vida de cada um de nós, mas são, igualmente, um motivo de preocupação maior mesmo para os especialistas em segurança como Fonseca que reconhece a precaridade: “Já é possível ter dados ligados à Internet, o alarme, as luzes, a temperatura, a água, a televisão. No futuro vamos ter muito mais. Vai ser uma oportunidade e um problema. Vamos perceber quão criativos vão ser os ataques informáticos”, refere aquele especialista citado pelo jornalista João Pedro Pereira. Mais do que a fragilidade da segurança em torno da produção de dados, Paulo Marques, fundador da Feedzai, uma startup lusa, especializada em cibersegurança na área do comércio, reflete sobre um dos pontos mais críticos e que comporta, a meu ver, um risco acrescido:  “o importante não são os dados, mas o que se faz com a informação”. Ora, aqui reside a dualidade com que nos deparamos o quotidiano: conciliar oportunidade de negócio, criação de emprego, sofisticação de meios de informação, instrumentos inteligentes de gestão, com proteção dos cidadãos, Estado, Sociedade, Família. O conflito latente é sublinhado pelo diretor de cibersegurança da PT, José Alegria: “O futuro está a chegar muito depressa”, de tal modo, sublinha, que parece caminhar-se para uma combinação entre a Lei de Moore associada “a um crescimento exponencial da capacidade de processamento” e o”efeito em rede”.
As preocupações dos participantes nas duas iniciativas estão longe de ser um assunto local. Não há semana que o assunto não seja abordado em conferências, seminários, debates, congressos em todos os continentes- Uma prova de que não se pode ser indiferente ao impacto positivo e negativo. Num artigo publicado, igualmente, este mês pelo Centro para a Inovação de Dados norte americano, o analista político Joshua New, relata os medos da Casa Branca, a Comissão Federal do Comércio e outros críticos sobre o incremento exponencial da circulação de dados global, o que ele considera ser uma preocupação tardia, já que a polarização de dados existe e afeta as decisões das pessoas e governos. O lado negro desta visão, tem um prisma do lado de cá do Atlântico tão problemática, quanto programática. Num artigo publicado pelo Guardian, Marc Ambasna-Jones lembra-nos a intenção da União Europeia de criar um portal pan-europeu de dados que poderia poupar aos diferentes governos qualquer coisa como 1,7 biliões de euros. Uma estimativa elaborada a partir da discussão no fórum europeu dedicado à gestão de dados onde se projetaram as principais ações para os próximos três anos neste domínio. Os principais defensores do portal europeu, consideram que há um potencial por explorar na Europa e esperam convencer os mais céticos quanto às virtualidades de um projeto que pode ajudar a criar novos negócios e responder aos desafios da sociedade. Uma opção que deve merecer uma ampla discussão pública. De que estão à espera os decisores políticos para a lançar?

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