O que une o espanhol Pablo S.
Chillon, conselheiro urbano e o presidente da República Portuguesa, Cavaco
Silva? Aparentemente, a distância entre ambos é enorme, mas um levantou a
“lebre” sobre o impacto dos algoritmos na vida de cada um e na gestão da coisa
pública – (“Aceitarias que os algoritmos substituam os governos, a decisão
política?” - o outro advertiu para o seu impacto no sentido lato: “Quando tudo
se torna digital a sociedade fica mais vulnerável”. Não se trata a meu ver de
uma posição radical e/ou conservadora de ambos, mas tão só um aviso à navegação
a que urge dar resposta. Em causa, está tão só a vulnerabilidade. No vigésimo
Quinto Congresso das Comunicações, organizado pela APDC-Associação Portuguesa
para o Desenvolvimento das Comunicações, o PR alertou para a necessidade de os
decisores olharem para a questão da segurança digital, enquanto na mesma cidade
de Lisboa, no decurso de uma conferência sobre “Big Data”, Francisco Fonseca, presidente executivo da
Anubis Networks, lembrou a importância da Internet das Coisas no capítulo da
ciber segurança.
Os metas dados são uma
oportunidade para melhorar a vida de cada um de nós, mas são, igualmente, um
motivo de preocupação maior mesmo para os especialistas em segurança como
Fonseca que reconhece a precaridade: “Já é possível ter dados ligados à
Internet, o alarme, as luzes, a temperatura, a água, a televisão. No futuro
vamos ter muito mais. Vai ser uma oportunidade e um problema. Vamos perceber
quão criativos vão ser os ataques informáticos”, refere aquele especialista
citado pelo jornalista João Pedro Pereira. Mais do que a fragilidade da
segurança em torno da produção de dados, Paulo Marques, fundador da Feedzai,
uma startup lusa, especializada em cibersegurança na área do comércio, reflete
sobre um dos pontos mais críticos e que comporta, a meu ver, um risco
acrescido: “o importante não são os
dados, mas o que se faz com a informação”. Ora, aqui reside a dualidade com que
nos deparamos o quotidiano: conciliar oportunidade de negócio, criação de
emprego, sofisticação de meios de informação, instrumentos inteligentes de
gestão, com proteção dos cidadãos, Estado, Sociedade, Família. O conflito
latente é sublinhado pelo diretor de cibersegurança da PT, José Alegria: “O
futuro está a chegar muito depressa”, de tal modo, sublinha, que parece
caminhar-se para uma combinação entre a Lei de Moore associada “a um
crescimento exponencial da capacidade de processamento” e o”efeito em rede”.
As preocupações dos participantes
nas duas iniciativas estão longe de ser um assunto local. Não há semana que o
assunto não seja abordado em conferências, seminários, debates, congressos em
todos os continentes- Uma prova de que não se pode ser indiferente ao impacto
positivo e negativo. Num artigo publicado, igualmente, este mês pelo Centro
para a Inovação de Dados norte americano, o analista político Joshua New,
relata os medos da Casa Branca, a Comissão Federal do Comércio e outros
críticos sobre o incremento exponencial da circulação de dados global, o que
ele considera ser uma preocupação tardia, já que a polarização de dados existe
e afeta as decisões das pessoas e governos. O lado negro desta visão, tem um
prisma do lado de cá do Atlântico tão problemática, quanto programática. Num
artigo publicado pelo Guardian, Marc Ambasna-Jones lembra-nos a intenção da
União Europeia de criar um portal pan-europeu de dados que poderia poupar aos
diferentes governos qualquer coisa como 1,7 biliões de euros. Uma estimativa elaborada
a partir da discussão no fórum europeu dedicado à gestão de dados onde se
projetaram as principais ações para os próximos três anos neste domínio. Os
principais defensores do portal europeu, consideram que há um potencial por
explorar na Europa e esperam convencer os mais céticos quanto às virtualidades
de um projeto que pode ajudar a criar novos negócios e responder aos desafios
da sociedade. Uma opção que deve merecer uma ampla discussão pública. De que
estão à espera os decisores políticos para a lançar?
Sem comentários:
Enviar um comentário